sábado, 27 de outubro de 2012

Aproveitemos o mundo...

Hoje, não sei bem sobre o que quero falar. Na verdade, sempre que me vejo nesse estado de indecisão, ou melhor, de falta de ideias a serem exploradas, fico imaginando como seria minha vida, se eu fosse mudo, cego, surgo, ou fosse portador de alguma patologia mental... Aí, fico meio que parado, pensando e tentando         enxergar, na minha mente, todas as coisas belas das quais eu ficaria privado sem os meus sentidos.
De repente, como que uma injeção de ar, percebo que, muitas vezes, as pessoas "precisam" tanto de futilidades para se sentirem felizes, que se esquecem de que o essencial para se sentir bem está exatamente onde não procuramos: na luz que os olhos captam, no ar que os nossos pulmões sorvem, nos sons que os nossos ouvidos tomam para si, nas sensações que fazem nossa pele se arrepiar. Sem essas capacidades seríamos nada, viveríamos limitados, não teríamos a capacidade de sermos um corpo pelo qual torrentes de energia fluiriam.
Quando alguém já nasce com alguma limitação, o mundo não lhe é conhecido, e esse alguém como que nasce e tenta de adaptar do modo que é, com os sentidos que lhe estão disponíveis. Na verdade, é como se   as cores, para um cego, não existissem. Ou os sons para um surdo... Mas o que dizer para alguém que nasce com todos os sentidos com capacidade plena de uso e, repentinamente, é privado de ouvir, de falar, de enxergar, de pensar... Somos, nessas situações, obrigados a viver sem aquilo com que crescemos. O mundo passa a não fazer sentido. Sofremos um bruto impacto e, literalmente, mergulhamos num caos, numa espécie de vazio. Alguns desistem, outros insistem e continuam vivendo diante da nova realidade e das limitações que ela impõe.
Não sei por qual motivo hoje parei para pensar nisso, enquanto estou cá, deitado na cama, vendo o tempo passar, sentindo a luz que vem da tv nos meus olhos, ouvindo o barulho que vem dá rua, o vento que diminui  o calor de minha pele, sentindo que o mundo abaixo, acima, ao meu redor, está carregado de energia, energia esta que também corre em minhas veias. Estou vivo, com todos os meus sentidos trabalhando e trazendo a matéria do mundo para mim. E vejo que, na verdade, a ausência ou a espera de algo que me faça levantar da cama e correr é algo que deve também ser aproveitado, já que a maior tristeza é ter toda uma vida à nossa disposição e não termos nenhuma perspectiva para movimentá-la, para preenchê-la. De repente, vejo que sou o cara mais feliz do mundo, que tenho tudo que pode me fazer (e me faz) feliz. Enxergo, respiro, ando, movimento-me, degusto... posso sair da cama num pulo sem precisar de alguém faça isso por mim e, definitivamente, vejo o quanto sou um cara feliz. Tenho tudo de que preciso para dizer que sou um cara pleno. Obviamente, todos nós temos aquele sonho por realizar, aquele que nos faz acordar e esticar a mão, como a alcançar aquela estrela, mesmo sabendo que não é possível.
Sempre digo que existem sonhos e existem objetivos. Digamos que esses últimos são mais fáceis de serem alcançados, porque demanda tempo e esforço físico e intelectual: algo que depende quase que 100% de nós. Já aqueles, não. Aqueles são mais preciosos. Nascem e nós e se instalam em nosso ser, como se sempre tivessem ali, grudados em nosso peito. É o sonho de encontrar a pessoa amada, de rever um ente querido, de ser pai ou mãe... Esses sonhos são como pedras preciosas, existem, são raros, difíceis, dependem, muitas vezes, de um pouco de sorte, de acaso, de destino: de Deus.
Sempre digo que quero, longe de mim, pessoas indolentes, preguiçosas, resmungonas. Enfim, pessoas que têm tudo para mudar o destino de suas vidas e ficam, numa atitude passivo-contemplativa, esperando a "boa vontade de Deus", como se Ele gostasse e valorizasse pessoas preguiçosas. Agradeço a Ele todas as noites pelo quem tenho, porque sou um vencedor, sempre fui: venci a maior e mais difícil das corridas, a pela vida. Comecei como um espermatozoide cabeçudo lutando contra outros tantos milhões de células, que como eu, queriam chegar ao prêmio, ao óvulo ao qual se fundiria e geraria esse cara que agora, com todos os dedos perfeitos, com os olhos saudáveis, com a mente brilhante, e com uma imensa vontade de viver: eu.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Eu, "O menino que roubava livros"... Aprendiz da vida... Vivente da arte!

Olá, meus queridos, amigos, colegas, amor, família, alunos... Faz tempo que não passo por aqui, a fim de jogar palavras no teclado, ficar com dúvida sobre o que dizer, ou melhor, escrever, para leitores cuja presença aqui não tenho certeza se virá, "perder um pouco de tempo", para ler as palavras que vou transmito neste fluxo louco que é a internet.
Faz mais de ano que não atualizo o blog, mesmo porque não quero ser visto como aquele que escreve para estar sempre dizendo algo, como se tudo que acontecesse fosse digno de um artigo aqui neste ambiente. Gosto de maturar as ideias. Deixá-las, algumas vezes, em banho-maria. Gosto que as ideias vicejem no meu cérebro, até que elas me obriguem a vir aqui e expô-las, maduras, como fruta que apanhamos embaixo da árvore e a devoramos, rápida, suculenta, apetitosa.
Para mim, as palavras boas, são as palavras digestivas. Aquelas que entram, descem pela garganta, escorregam fáceis, e nos alimentam, infinitamente, com seu poder de preencher um espaço que nunca mais ficará vazio, porque elas, as palavras sucululentas, não vão embora, criam radículas, espalham-se dentro de nós, produzem pensamento, obrigam-nos a criar mais palavras...
É algo semelhante à boa literatura, que não necessariamente tem que ser uma literatura cujo princípio é o das histórias de contos de fadas, com finais felizes, cor de rosa com azul. A boa literatura me excita. Causa-me frenesi. Digamos que até mesmo mal-estar. Porque nos obriga a pensar. A viver aquela realidade. A sentir um mundo que não é nosso, mas que se torna nosso porque adentramos por ele, pelas palavras, que nos carregam, nos sugam, nos consomem, criando em nós, matéria nova. Sou amante das palavras. Não me recordo um momento da vida em que elas não estiveram presentes. Desde moleque, quando, na minha inocência, furtei da pequena biblioteca do escola em que cursava o primário. Eu era magricela, cabeça grande, usava calça-curta, tênis conga. E achava fantástico ir, após o lanche, correr para a biblioteca ficar vendo aquele mundinho de livro, com a bibliotecária, lá no canto dela vendendo produtos da revista Avon, para complementar o salário ralo. E eu, namorando os livros que não podiam sair, já que eram únicos, não tinham mais de um volume. Então, eu ficava ali, transtornado na minha invisibilidade pueril, mais um aluno em meio a uma multidão de moleques que corriam loucos pelos corredores e pelo pátio da escola. Até que um dia venci a mim mesmo e, aos 10 anos, cometi meua primeiro e dramático delito: furtei o livro. Coloquei embaixo da camisa de botão, branquinha, cujo bolso possuia a imagem da bandeira do município de Mossoró. Coloquei, sofrego, suando bicas, tremendo, por medo de ser pego em flagrante delito e ser preso pela autoridade escolar. Sai de fininho, e quando cheguei ao corredor, corri, corri, corri muito até chegar à sala de aula e conseguir depositar a "joia roubada" em minha mochila, que estava com o zipper quebrado. Meu Deus!
Agora mesmo, quando me recordo, ainda sinto a aflição do momento, do perigo. Fiquei louco para chegar em casa e me deleitar com a história de Robison Suíço, um cara que, em viagem com a família, teve o seu destino alterado por um naufrágio, ao qual escapou apenas ele e sua família, indo para em uma fantástica ilha deserta. Lembro-me que não queria fazer outra coisa que não fosse ler aquela aventura. As palavras me puxavam para aquela ilha, eu me via correndo atrás das avestruzes com os filhos do náufrago. Dormindo em uma casa linda, trepada numa árvore gigantesca. Eu me via indo ao návio pegar tudo aquilo que pudesse ser aproveitado no nova terra, naquela ilha, mais enigmática do que a ilha de LOST.
Ainda tenho esse livro. Na verdade, está com o meu sobrinho Matheus. Eu o emprestei para ver se ele dá um tempo nas revistinhas da turma da Mônica. Ao que parece, meu sobrinho também é viciado em livros. Se lhe compro dez revistas para ele passar o mês, o moleque ler tudo no mesmo dia. O vocabulário dele é fantástico. Conhece palavras que me causam espanto para a idade dele. Recordo-me de um livro, que ainda não li. Acho que é "A menina que roubava livros". Um dia o lerei para ver se guarda semelhança com a minha história. A minha fantástica história infantil de um garoto sonhador, apaixonado pela vida, que ficava vendo o mundo passar diante dos seus olhos, encantado com a possibilidade de criar história na minha cabecinha cabeluda (hehehe, quando criança meu cabelo era tipo volumoso, crespo, minha mãe demorava a mandar cortar, tempos das vacas magras...). Criava narrativas fantásticas, onde eu, obviamente, era o herói. Fortão. Conquistava a garota, que à época, era a dos meus sonhos: Daniele...
Cresci. Li de tudo. Flaubert. Dostoiévski. Eça de Queirós. Stendal. Machado. Li também um bocado de livros pesados para a minha adolescência: Adelaide Carraro é de que agora me recordo. Fanstásticas histórias erótico-pornográficas que não eram indicadas para adolescentes, mas que não sei bem o porquê, havia na biblioteca pública de Mossoró (se eram proibidas por que, então, estavam à merçê de todos? inclusive eu?). Ah, li também Jean Genet. Livro pesado, mas considerado um clássico para os que discutem questões relacionadas ao gênero, à sexualidade.
Até um tempo atrás, eu tinha uma lista com nome das obras e autoria que tinha lido até os dezoito anos. Perdi a agenda. Mas me recordo que já tinha lido uma média de 300 obras até os dezoito anos de minha infância e adolescência de um garoto que sempre foi meio observador do mundo. Hoje, estou concluindo mestrado em Literatura Comparada na UFRN. Dou aula de Língua Portuguesa e Literatura no IFRN. E sou a favor que meus pupilos leiam de tudo. Desde a literatura tida como clássica até a literatura que causa o pavor dos mais conservadores. Talvez por isso que tenha optado em estudar o meu ídolo: Nélson Rodrigues e a sua transgressiva Engraçadinha. Talvez tenha lutado para ser orientando de Ilza Matias, professora da UFRN, que possui um mundo de leituras que não se enquadram no perfil do cânone.
Quero no doutorado continuar lendo transgressões, porque elas nos mostram o mundo como ele é, ou como poderia ser. Trabalho com aquilo pelo qual sempre fui apaixonado: livros, palavras, imagens... Foi pela leitura que cometi o meu primeiro delito de amor: roubar um livro, como um beijo roubado da pessoa que se ama. Quando estou lendo, PQP! Sinto-me forte porque quebro fronteiras geográficas. Conheço o frio das regiões desconhecidas. Fujo do calor de Mossoró. Mas volto para a sequidão de histórias de amor passadas no Deserto do Saara (Eita Pequeno Príncipe Velho de Guerra...). Quando eu leio, fico mais inteligente. Porque pense em algo chato você conversar com alguém que não consegue falar sobre arte, sobre literatura, sobre cinema, sobre sentimentos, sobre vida...
Por esses dias, lancei uma questão para os meus alunos do terceirão do IFRN, após termos lido um conto de Clarice Lispector: Devaneios e embriaguez duma rapariga. Eles tiveram que produzir um pequeno texto a partir da seguinte indagação: "A literatura é reprodução da realidade ou a literatura produz realidade?", usando as substâncias que vieram pelo contato com Clarice... Sentei-me em frente ao PC, hoje, para falar sobre algo que não tinha certeza. De repente, elas me tomaram: as palavras e me vi, repentinamente, contando a minha intimidade. A-minha-pequena-trajetória-como moleque-roubador-de-livros-de-uma-pequena-escola-na-pequena-cidade-de-Mossoró. Literatura, para mim, é vida. Vida que se renova a cada leitura. A cada novo leitor. A cada nova emoção despertada.
Se um dia me perguntarem se eu sou um cara do bem, não sei dizer, com exatidão, se sou digno de ser copiado, como exemplo de boa conduta. Seria muita pretensão de minha parte. Mas sei, certamente, que me torno um cara melhor, com mais sensibilidade para compreender a mim mesmo e ao outro. Às vezes sou monstro. Às vezes sou santo. Aprendi a ser melhor amante. Aprendi a não me torturar quando cometo pequenos desgostos aos outros. Creio que serei sempre um amante de literatura, porque me vejo como um eterno Robinson Suiço, vivendo em uma ilha-paraiso. Sendo um capitão de uma jangada, com o sol batendo e queimando o meu rosto de pele brança, comendo peixe frito na fogeira. Tomando banho pelado no mar azul... 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sobre os Deuses Brilhosos...

Hoje, venho aqui falar um pouco sobre algo que pouquíssimas pessoas entenderão o motivo que me levou a tirar parte do tempo de que disponho para versar sobre. Na verdade, a minha relação com os Deuses Brilhosos parte de uma experiência particular, pautada numa certa obervação acerca de determinado grupo de pessoas.
Para início de conversa, parto da pergunta óbvia que qualquer leitor pode de cara conjecturar: Quem são os Deuses Brilhosos? Essa indagação suscita outra? Não menos óbvia: Todos os Deuses não são brilhosos? E mais outra: E os Deuses que não são brilhosos são o que? Diante dessas, poderiam surgir inúmeras outras, mas para evitar circunlóquios e mais circunlóquios, procurarei ser o mais breve possível, escrevendo algo mais próximo de um telegrama e mais distante das missivas de Caminha, quando da questionável descoberta do Brasil em 1500.
Os Deuses Brilhosos são uma categoria de pessoas que se encontram, de certo modo, distante do mundo, dos mortais chamados “gente”. Essa categoria de Deuses existe desde que o mundo se tornou civilizado. Isso se deu em todas as áreas do conhecimento humano. Os Deuses Brilhosos não aceitam a caracterização em forma de oração adjetiva restritiva, ou seja, "Deuses que brilham", já que essa última forma encerra uma verdade inquestionável, conferindo aos Deuses a restrição verdadeira de serem dotados de luz, de destaque, de mérito.
Os verdadeiros Deuses Brilhosos não brilham, apenas se revestem de uma certa tinta que constrói a falsa impressão de que são dotados de um vigor luminoso que os destaca dos outros seres, como eles, também mortais. Isso mesmo: esses Deuses são mortais, porque são humanos e levam a vida a fazer isso ou aquilo para promoverem a imagem de seres invencíveis e acima de todos os outros.
Para eles, o tempo tem que ser gasto, ou melhor, empregado em algo que renda números, dados, matérias que promovam o seu brilho e a sua soberania dentre os meros mortais. Se você olhar bem para o seu lado, perceberá que não é necessário ir muito longe para encontrar um Deus Brilhoso. Ele se reveste das mais variadas funções em sociedade. O brilho do Deus não necessariamente é refletido no dinheiro que possui. Mas em qualquer coisa que represente o seu ego, que projete a sua pseuda importância para que as pessoas acreditem que aquele brilho é reflexo da grandiosidade que é guardada dentro de si.
Provavelmente, poucos são os Deuses Brilhosos que apresentam a grandeza de espírito condizente com a grandeza que o brilho projeta em sociedade. Infelizmente, para eles, o parecer-ser é mais importante do que o ser-por-ser. Ter, possuir, parecer, conservar, apossar-se são verbos que compõem o léxico dessas pessoas. Tudo que elas fazem é voltado para a projeção.
Ao que parece, ser Deus Brilhoso é uma forma de alavancar a baixa do ego. Como se algum tipo de repressão ou inibição fossem supridas pela “tinta brilhosa” e aquilo que ela representa. A vida desses Deuses, na maioríssima (desculpem esse horrível superlativo...) das vezes, é limitada a produzir status. Geralmente, são solteiros, e, sozinhos, dizem que o fato de estarem sem ninguém é uma questão de escolha. Mas, na verdade, são pessoas que administram mal a vida particular e não sabem lidar com a presença de outro ser, no mesmo patamar, na mesma intimidade, no mesmo espaço, ainda que esse espaço seja a cama.
Uma matéria de revista, uma nota de rodapé num artigo científico, um outdoor qualquer... tudo que servir para difundir a áurea dos Deuses Brilhosos é disputado a pau, a cacetete, a tiro por eles, porque não se admite que fulano ou sicrano sejam mais importantes no mundo perigoso e milimetricamente autoritário dos Brilhosos.
Se se fizesse uma entrevista, tipo jogo-rápido, rapidinha com algum Deus dessa natureza, seria mais ou menos assim:
1)Nome: (Desculpe entrevistador, prefiro que coloque o meu nome científico, como aparece nas minhas publicações...) PATAVINAS, B.
2) Idade: prefiro não dizer...
3) Hobby: Pode parecer bobagem, mas gosto de reler os meus artigos. Só para se ter uma ideia, publiquei até o final do ano passado, 300. Vê se pode? Estou no topo do rank.
4) Lugar predileto para passar as férias: Na verdade, são lugares, não gosto de repetir. As últimas foram fantásticas: Aspen. Gosto também de Paris, Grécia. Quando fico no Brasil, gosto de ficar num hotel simpleszinho, aquele que passou na novela das oito, da GLOBO. Bem simples...
5) Comida: Qualquer uma da culinária francesa.
6) Música: Já ouvia as de Mozart?
7) Sozinho(a) ou mal-acompanhado(a): Nunca fico sozinho(a). Mas prefiro ficar na minha própria companhia. Eu sei do que eu preciso...
8) Amigos: Essenciais, mas antes sem nenhum do que com algum que me traga transtornos.
(...)
Esses Deuses normalmente são pessoas mal resolvidas. Mas tem grana a dar com pau. Carro do ano. Férias nas Ilhas Gregas. Roupa da grife Armani. Passatempo predileto: cultivar o seu próprio ego.
Não podemos dizer que todos os Deuses Brilhosos são pessoas ruins, egoístas. Às vezes, fico até penalizado, pois não é fácil viver num mundo como o que nós temos, onde o indivíduo vale o que tem. E quem não tem, serve de coisa a quem possui o poder de mando. É fácil imaginar que a construção do homem em sua grande maioria se dá pelo modelo humano que é cultivado a cada época.
Vivemos hoje o momento da mercadorização do homem. Ser Deus Brilhoso é quase uma exigência para quem não tem pretensão de viver à luz falaciosa dos outros. Mas entre ser Brilhoso e ser humano, com dores e paixões que nos arrebatam, prefiro a segunda opção porque ostentação nenhuma vale o preço do sabor de um beijo, de um abraço aconhegante, de uma conversa comprida ao telefone, de uma reconciliação após uma briga por bobagem, de uma batata frita com amigos num barzinho qualquer... enfim, de viver sem o calor causticante que emanam do patamar de tais Deuses!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Quem mais resistirá: Natureza ou Homem?

Hoje, 13 de janeiro de 2010, mesmo com preguiça, não me contive e vim aqui falar um pouco sobre um fato dramático que tem acometido o eixo Rio-São Paulo. Chuvas torrenciais que, seguindo o seu curso natural, têm sido motivo de centenas de mortes.
Emocionei-me, vendo o resgaste, com ares de filme de Hollywood, de uma mulher que se viu presa em sua casa, sendo esta, violentamente, tragada pela fúria bela da correnteza da água, que rolava em abundância. Seguiram-se cenas em que pessoas choravam desoladas pela perda de familiares. Uma moça, coitada, perdera 15 familiares de uma só vez.
Fiquei triste na hora por motivos vários: pela tragédia em si; pela dor dos que vivenciam o caos; pelo sensacionalismo desmedido com que a mídia sempre transmite a dor alheia; e pelo descaso com que todos nós estamos lidando com a Natureza.
A tragédia, segundo depoimento de um jovem capturado pela lente da câmera, diz não acreditar estar passando por tudo aquilo, como se as pessoas somente acreditassem que aquilo fosse possível nos filmes. Vendo e ouvindo aquele rapaz, sofri pela ilusão em que vive a maior parte das pessoas. Pessoas que pensam, às vezes para sofrer menos, que o trágico, o dramático apenas acontece com os outros, com a sosciedade, como se nós não fossêmos a sociedade, como se os outros fossem um categoria distante da qual nós nunca faremos parte. Ser o outro e ser o eu são posições que se relativizam à medida que fomos vivendo e nos transformando em animais sociais e políticos. A tragédia em si traz um ar de que algo poderia ter sido feito para evitá-la, mas que por descaso de alguém...
O telejornal a que assisti resolveu preparar uma edição especial para cobrir a tragédia. E de tudo, o que mais ficava em evidência era a dor, o sofrimento, a desilusão. Uma das matérias apresentada por Evaristo falava sobre a solidariedade. Solidariedade de desconhecidos para com a dor de desconhecidos. A matéria suscitava discussões acerca de motivos que levam pessoas a ajudarem pessoas mesmo quando estas são anônimas. Realmente, fiquei com um nó preso na garganta quando vi pessoas cobertas de lama tentando encontrar parentes de outras, como se embaixo de todo aquele barro molhado se ouviesse o pulsar da vida. Já me perguntaram certa vez, o que mais me emociona. E repito aqui o que disse outrora: a solidariedade é o que me faz o coração realmente tremer e suspirar, fazendo verter lágrimas. Sei que a TV tem como princípio básico a busca extremanda pela audiência, subjulgando muitas vezes, valores e aspectos morais que são essenciais para a harmonia social.
Mas, na TV, infelizmente, principalmente, hoje, é raro ver programas e personalidades realmente comprometidas com as causas sociais, sem que se busque com isso, a autopromoção. Bons tempos em que, aos domingos, a família reunia-se para assistir ao Programa Porta da Esperança, tão bem apresentado por Sílvio Santos. A década de 80 era rica e foi, certamente, uma época de ouro dificilmente de ser repetida. Graças a Deus que vivi e senti aquele tempo mágico em que ser feliz era simples e não se precisava de tanta parafernália eletrônica para se comunicar. Havia mais contato e menos contrato com os outros. Mas, voltando ao foco: a TV hoje, apesar da subversão de valores, ainda tem espaço para o bem, para a solidariedade. Aproveito esse espaço para parabenizar um cara que sabe fazer o bem, de modo simples, que aproveita o espaço que lhe é concedido na mídia e faz aquilo que muitos poderiam e deveriam fazer: ajudar aos que são esquecidos, aos que, por erros dos outros ou de si mesmos, não tiveram a oportunidade de conseguir motivos simples para sorrir e para chorar (de felicidade...). Luciano Huck... Sem mais palavras. Creio que a TV pode explicar aquilo que prefiro guardar.
Diante de tudo isso, resta-nos falar sobre a tragédia, sobre a dor, sobre a solidariedade, sobre o descaso. Descaso, creio eu, motivo primeiro e último para fenômenos desse tipo, que assolam o homem e o seu espaço de modo tão rápido e impiedoso que choca pela fúria e pela potência.
O descaso é em primeira e em última estância o motivo gerador do caos a que assistimos no nosso cotidiano. É triste ver o sofrimento de nossos pares. É doloroso saber que nós humanos, apesar da nossa técnica e avanço científicos estamos suscetíveis aos transtornos dessa ordem. Mas o pior de tudo é saber que o homem, em toda a sua potência, não reconhece a onipotência da natureza.
Nessa tragédia toda, deveríamos tirar lições, aprender que medir forças contra a natureza é uma batalha perdida. Tenho consciência de que os que mais perdem, em termos concretos e racionais, são aqueles que perderam suas famílias, suas pobres casas, que perderam a sua dignidade, tão difundida nas leis, na própria Constituição Federal de 1988. Perder o lar e perder aqueles que ocupam o lar é trágico, é triste, é doloroso.
Sei que um bocado de gente pode estar pensando, ao ler, isso aqui que é fácil estar em frente ao computador, no enxuto, com comida na geladeira, com uma cama quentinha e aconchegante para dormir, ao invés de estar no umidade, no frio cortante, com o estômago vazio e o coração em pedaços.
Sei que estou num momento privilegiado, mas sei também que, conforme preceitua pensamento de algum filósofo, é na dor que aprendemos. E é nesse momento que sinto vontade de expor a minha angústia diante de tanta indiferença do homem com ela, com a natureza. Com ela, da qual fazemos parte, da qual viemos e para qual voltaremos. Vendo as imagens da água descendo aqueles morros, fico imaginando há quanto tempo essa cena não se repete: há milênios que aquele monte está ali, que em épocas de chuva, aquela água desce tranquila e violenta trazendo terra, trazendo pedra, fazendo lama, conduzindo a vida. E o homem, onde fica o homem nessa história toda? O homem veio muito tempo depois e começou a destruir a mata, derrubando árvores para constrir casas e foi ocupando o lugar das árvores, o caminho por onde a água corria há milênios.
Em todos os telejornais, convidam-se doutores em geologia, em meteorologia, em engenharia dos solos... para que possam discorrer sobre o óbvio. Por que há tantos alagamentos em cidades como São Paulo? Ora, porque o rio já estava lá há milênios, o rio ganhou nome de Tietê mesmo antes de espécie humana pensar em andar por estas paragens. Todo aquele lugar onde a água do rio chega quando chove e inunda é dele, é do rio que, há milhares e milhares de anos repete a mesma ação. Será que esse povo todo sabe o que vem a ser "leito do rio"? Será que o homem não pensa que agredindo a natureza ele está se agredindo? Será que não sabe que a natureza não precisa de muito esforço para demonstrar o quanto ela é poderosa?
O título desse texto indaga sobre quem resistirá nesse combate com final certo: natureza e homem estão em um tabuleiro. O homem tem agredido. A natureza tem se mantido silenciosa na maior parte das vezes. Porém, quando menos se espera, ela, com a sua calma natural, faz aquilo que há tempos vem fazendo: simplesmente é ela mesma.
E o homem? Bom, esse fica a discutir, a falar, a buscar explicações óbvias, constrói, destrói, ergue, derruba. O mundo pode até ser destruído pela maldade. Isso mesmo: pela MALDADE do homem. Chora-se porque muita gente morreu com as ações da natureza. Mas não se percebe que destruindo a natureza, ela apenas dar a sua resposta.
Imaginemos o planeta Terra explodindo. A natureza morreu? De forma alguma! A natureza não morre. A natureza é energia divina. E essa energia apenas se transforma em mais energia. E no final das contas, onde estaria o homem depois dessa pretensa explosão? A resposta também é óbvia: o homem morre no final dessa história humana, mas a sua matéria transforma-se em energia e a natureza... bom, a natureza continuará propagando a sua força. No final dessa guerra, tomemos consciência, porque a natureza nunca perde...

P.S. Desculpem os prováveis desvios linguístico-gramaticais, mas pelo menos aqui não tenho paciência para revisar...
(Imagens colhidas na Internet)




sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

OS DEDOS!

Olá, turminha! Voltei depois de muito tempo distante deste espaço que serve, a um só tempo, como refúgio e instrumento de expressão da parte mais profunda de mim e que apenas vem à tona por meio delas, sem as quais não consigo expulsar aquilo que, ora me aflige, ora me consome, ora me eleva aos céus, ora me faz se forte. Elas. Elas. Elas... as PALAVRAS, tal qual a larva que sangra do ventre da Terra.


Gosto muito de escrever. De me mostrar por meio da linguagem verbal. De estar comigo, estando com os outros, uma vez que as palavras nos permitem sair de nós mesmos sem, paradoxalmente, sairmos do estado em que estamos... Putz! Procuro me controlar, ser claro, objetivo, mas às palavras têm esse poder sobre mim, de me fazer dizer mais do que quero e ficar com a sensação de que, ao invés de um ponto, uma vírgula bem colocada poderia ter propiciado uma melhor exploração e exposição do meu pensamento, mas enfim, vamos ao que me propus no início desse texto, no título.



Vim aqui hoje, primeiro para dizer aos quem se propõem a ler o que escrevo que fico feliz quando descubro o quanto de pessoas tiram parte de seu precioso tempo para ver um pouco de Davi Tintino através das "mal traçadas linhas" que escrevo. Isso demonstra que, bem ou mal, consigo atrair os outros para os meus pensamentos, para os meus estados d'alma, para aquilo que precisa sair de mim e ganhar vida própria, numa espécie de alterego. Agradeço, assim, a todos e a todas que vêm a este espaço e de algum modo se identifica, seja confirmando, seja negando, seja, ainda, mantendo-se na neutralidade do discurso, embora haja aqueles, como Foucault, que discordam de que as palavras que são ditas resguardam-se a não assumir nenhum lado das contendas sociais. Registro aqui o meu contentamento para com essas pessoas...

Hoje, venho aqui para falar um pouco sobre o ano que está findando, das realizações, das perdas, dos sonhos, das metas... 2010 foi um ano bom, muito bom. Foi um ano de descobertas, de conquistas, de consolidações, de novos caminhos a serem trilhados. Se em 2009 comecei um novo momento em minha vida, 2010 foi o momento de colocar os pés no chão e consolidar aquilo que se iniciou no ano anterior.
No ano passado, consegui alcançar um patamar almejado por muitos, disputado por inúmeros, mas atingido por poucos: ser professor do serviço público federal. Nesse momento, tive que decidir entre dar prosseguimento a faculdade de Direito ou ingressar no magistério do IFRN. Optei pelo segundo e hoje não me arrependo, apesar de ter criado um gosto fantástico pelas discussões jurídicas.
Em 2010, um sonho há muito adormecido, despertou quando comecei a me relacionar com professores do IF que são pós-graduados (mestres e doutores). Resolvi me matricular como aluno especial do mestrado na UFRN. Esse é um processo normal para quem deseja ser aluno regular nesse curso de pós. Em novembro deste ano, submeti-me à exaustiva seleção e, depois de três etapas, posso, hoje, dizer que SOU ALUNO DO MESTRADO EM LITERATURA COMPARADA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN.
Se vocês pudessem sentir a emoção ao ver o meu nome entre os aprovados, creio que poderiam compartilhar comigo tamanha emoção. Posso dizer sem medo de estar sendo exagerado que hoje vivo uma das melhores fases de minha vida. Tenho, graças a DEUS, tudo o que pode fazer um homem realmente feliz...
Hoje, olho para trás de vejo o quanto já foi caminhado e o quanto ainda existe para ser caminhado. Vejo-me como um homem comum, com qualidades e não digo defeitos, mas limitações como todo e qualquer ser humano. Gosto e quando gosto, gosto mesmo. Quando algo não me agrada, também me sinto no direito de expressar, claro que com restrições e com educação, acima de tudo. Convivo com pessoas de quem gosto muito, pessoas as quais aprendi a admirar e por quem passei a ser admirado. Convivo também com pessoas com as quais não tenho nenhum afinidade, mas que pelos ossos da vida em sociedade tenho que me submeter a tais presenças.
Alguém pode indagar: "Por que Davi fala tanto em pessoas?". A essa pergunta, digo que tudo que sou hoje é reflexo das pessoas que passaram ou que ficaram em minha vida. Creio que todo mundo que de alguma forma entra em nossa vida, fá-lo por um motivo que muitas vezes desconhecemos por nossa limitação humana, mas que se encontra escrito num livro grandão, guardado por um Ser Onipotente e que tem a chave para tudo. Conheci pessoas que simplesmente vieram, pelas mãos do desconhecido, até mim para que eu aprendesse algo, por mais insignificante que fosse. Outras me mostraram a importância de se ter pessoas verdadeiras e humanas na nossa base. Base de vida. Base de amor. Base de ser. Base de construir. Bases e mais bases sem as quais a vida não seria possível.
Hoje, sendo o que sou, compartilho do princípio de que a presença de amigos na nossa vida é algo tão imprescindível e precioso que se equipara à necessidade e à indispensabilidade dos dedos de nossas mãos. Vejam bem que temos somente dez dedos, cinco em cada mão, mas que são o suficiente para que tenhamos e desenvolvamos todas as habilidades e atividades para nossa vida enquanto animal biológico e animal político, nas palavras de Aristóteles.
Os dedos são ferramentas essenciais para a nossa sobrevivência. Com eles, manipulamos os objetos na realização de tarefas e, mesmo sem objetos, conseguimos realizar uma infinidade de ações importantes na nossa labuta em busca da sobrevivência. Os nossos ancestrais matavam com as mãos (e muitos atuais o fazem como se a vida fosse nada...) em busca de se manter vivo na luta com as outras feras. As nossas mãos lava o nosso corpo para nos livrar das impurezas. As nossas mãos tiram cisco dos nossos olhos... As nossas mãos são a arte que faz a arte. Os meios que nos poem em contato com aquilo de que precisamos para construir, materialmente, o nosso mundo.
Os nossos amigos são as nossas mãos. São os dedos. São a porta da nossa sensibilidade. São eles que nos ajudam a construir o nosso mundo. São eles que nos acariciam. Amigos, amigos, amigos. Tenho dez dedos nas mãos e amigos, será que eu teria mais ou menos? A resposta seria simples, se não fosse tão complexa por conta de todo um conjunto de filosofias de vida (da minha e da dos outros...).
Hoje, quero, nas vésperas de fim de ano, celebrar a vida. Não me aprofundar muitos em alguns assuntos, já que, como disse antes, falo demais e escrevo muito também, proporcionalmente. Quero simplesmente viver sem muita perturbação. Comemorar as vitórias. Aprender com as perdas. Amar e ser amado.
2009 e 2010 foram anos de superação e de conquista. Venci a mim mesmo em vários momentos. E esses dois anos são o coroamento de muito esforço, de apoio incondicional de amigos, de amor incontido de meus familiares, do companheirismo e do carinho de meu amor.
Em 2011, estaremos, com a graça de Deus, juntos...
Obrigado a todos (família, coração, amigos, alunos...) pela vida na minha vida... vocês são a essência daquilo que há de melhor em mim...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Vazio

Há alguns meses que não venho a este espaço para escrever. Mas hoje, infelizmente, venho para falar sobre algo ruim, uma situação triste, uma dor que grita, um vazio que mais parece um turbilhão de matéria que avoluma o peito. Hoje venho aqui falar sobre mim, sem tons filosóficos e existenciais exacerbados. Hoje venho falar sobre a perda e como ela pode nos fazer ganhar, mesmo que estejamos com olhos voltados, naquele instante, para a dor e não para aquilo que causou a dor.
Hoje, 18 de junho de 2010, é o prolongamento de um dos dias, provavelmente, mais duros e difíceis que já enfrentei nesses trinta anos de vida. Hoje, sinto em mim um vazio que, ao respirar, causa uma sensação terrível que se assemelha a retirada de todos os órgãos que enchem e formam o nosso peito. É uma dor sem consistência, que se apalparmos a região onde fica o coração, não sentimos nada. Mas que ao se respirar profundamente por se lembrar de um momento feliz, causa uma dor terrível que droga nenhuma pode amenizar os efeitos.
Eu sempre li livros em que se narrava romances grandiososos, de amor profundo e que causam muita dor. Essas histórias, por mais que me encantassem, não causavam em mim um impacto muito grande.
Deliciava-me com os conflitos romanescos, as dores das personagens e, vez por outra, ria, questionando a intensidade das dores construídas pelas tintas do autor. Não imaginava que aquilo refletisse fidedginamente o que vivem as pessoas reais. Fui pego no laço e cá estou eu sentindo que abaixo de meus pés não existe mais chão. Que o ar que respiro é denso. Que a noite não traz mais a calma e descanso que lhe são inerentes.
Hoje sinto o que é realmente precisar de um outro ser humano para viver. É saber que, apesar de todos os erros, aquele ser é o único capaz de lhe dar ar, colocar-lhe chão sob os seus pés. Fazer com a noite seja um regaço de calmaria e relaxamento. Nunca pensei ser capaz de viver tão intensamente isso. Vivo hoje, mas o meu coração está muito machucado.
Sempre acreditei que o amor verdadeiro é aquele que dá a liberdade para que o outro ser humano sinta-se livre e voe quando achar que ali não é mais o seu lugar. Agora percebo que seguir esse princípio é doloroso por demais. Deixar a pessoa que você ama, aquela com quem você idealizou toda uma vida, constituir uma família, pequenina e quente, como coração de mãe. Isso dói.
Neste momento, tenho que conviver com várias dores: a dor da perda, a dor do vazio, a dor da fraqueza e da impotência, a dor certeza... Tenho me apegado com Deus. Tenho buscado forças. Tenho chorado... e tenho buscado entender o porquê de tudo isso, a consciência de ter errado.
Não sei o que fazer agora. A ação de viver ganho status de sobrevivência, um dia de cada vez. Peço a Deus forças todas às vezes em que pego o celular, que acesso minha caixa de e-mails, que entro no Orkut. Forças para não desrespeitar o direito de ninguém e, principalmente, da pessoa que, junto com minha mãe, formam as pessoas que mais amo e admiro.
É para você, Amor de minha vida, que escrevo estas palavras, não como uma forma de voltarmos ao estado anterior, mas, como um modo de dizer o quanto o seu amor me é caro e sem ele, fico à deriva. Sou homem, fraco, falível. É para você que me dispo e digo que recorde dos nossos momentos, momentos em que idealizamos um futuro juntos, a dois, ou melhor, a três. Fique com Deus...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Deus na Berlinda...

Fome. Guerras. Desastres naturais. Corrupção. Temas constantes em noticiários de televisão, manchetes de jornais e revistas, mídia on-line. Muitos são os debates, poucas as respostas e, consequentemente, nenhuma solução. Ao contrário, dia a dia, aumenta mais o conflito. Pessoas desesperadas. Governos atados. O Mundo, um caos. Cientistas das mais variadas áreas do conhecimento humano debruçam-se sobre o assunto em busca de explicaões, ao menos acalentadoras, mas nada muda, ou melhor, muda para a pior.
Está mais do que claro que desde que o mundo é mundo, que o homem é homem, que problemas sociais, ambientais, políticos existiram e sempre vão existir. É indiscutível que à medida que a sociedade humana adquire mais conhecimento, que torna-se mais detentora da capacidade de desvendar o mistério, mais o mundo enfrenta novos percalços e, em decorrência, o próprio homem sofre os efeitos, na maioria das vezes, nefastos, principalmente para aqueles que, pouco ou nada, contribuem para tal perturbação mundial.
Busca-se, assim, a raiz do caos. Por que tanta miséria? Por que tanta guerra? Por que tantos desastres? Essas e muitas outras perguntas preenhecm o vazio cortante. Instigam os curiosos. Inflamam as discussões. Muitas são as especulações, o que acaba dividindo a sociedade num antagonismo sem fim: de um lado, os crentes, os evangélicos, os católicos, e todos aqueles que creem que uma força superiora rege as ações humanas, seja agraciando com dádivas, por boas ações realizadas, com colheitas fartas, por exemplo; seja punindo, com catástrofes ambientais, como inundações, secas gritantes, queda de aviões, tudo isso como consequência dos maus hábitos, comportamento vergonhoso etc, etc, etc. Do outro, estão os cientistas, os racionais, os gnósticos, que defendem a tese de que tudo é advindo, exclusivamente, das ações humanas, despido de toda e qualquer interferência sobrenatural.

E, entre esse embate, estamos nós, mulheres e homens comuns, do povo, que labuta de domingo a domingo, para ganhar, quase sempre, um salário minguado, mediocre, um quase nada, a fim de satisfazer, minimamente, as nossas mais primárias necessidades.
Quando falo em "nós" refiro-me a uma maioria quase que sem contato com a informação, refiro-me, infelizmente, a um considerável parcela da humanidade que desconhece a própria essência do ser humano e o que lhe torna mais sublime dentre todos os seres existentes. O homem comum vive do que ouve, recebe toda a "informação" já peneirada pelos manipuladores do poder. O povo sabe aquilo que os idealizadores do poder querem que se saiba.

Difunde-se que é preciso crer em Deus, em Alá, em Ogum em Fulano ou em Sicrano. Justifica-se isso, conforme os estudos da Psicanálise Freudiana, porque o homem necessita de um consolo espiritual. Que o homem que crê vive mais e melhor, já que o humano é feito para crer em algo. E assim o homem vai crendo que Deus dá presente quando fazemos coisas boas. E nos pune quando somos "mal-criados", como um pai que castiga o filho traquino quando este apronta uma de suas peripécias. E assim o conformismo espiritual vai consumindo o conformismo social.

Os céticos, que compartilham do ideal do "ver para crer", rebatem, categoricamente, quando questionam a existência de Deus. Para eles, Deus é apenas uma invenção humana, criado para satisfazer a necessidade de se ter resposta para tudo. Tudo, inclusive para a podridão que se espalha desde que o mundo é mundo. Contra-argumentam, justificando que "Que 'Deus' é esse que permite tanta miséria, tanta criança esquelética, tantos desastres naturais, tanta maldade no olhar humano?" É um ponto interessante a ser debatido, mas que, certamente, para o qual não se encontrará um consenso plausível.
A Ciência é tida como a Deusa da Modernidade. Foi, sem sombra de dúvidas, a forma mais cômoda que o homem medieval encontrou para fugir das amarras da ignorância defendida e difundida pelo pensamento religioso daquela Era. Deus era (e é, infelizmente) um joguete, um marionete, um brinquedo, enfim, uma arma nas mãos daqueles que detinham, à época, o poder de fazer prevalecer a ideologia que lhes era dominante. Deus era o Pai Eterno e Misericordioso, quando podia presentar os que realizassem "doações" para aumentar o patrimônio do Genitor Celestial. Em contrapartida, Deus era o Carrasco, que subjugava aqueles que desobedeciam os Seus Mandamentos, que se recusavam a "comprar" um terreno no céu ou que, por cederem aos prazeres da carne, tinham seus nomes riscados do Livro da Vida.

Esta visão errônea que se tinha sobre Deus foi alterada quando se consolidou o surgimento do verdadeiro pensamento científico. Neste momento de mudança de foco, Deus deixou de protagonizar o espetáculo e a ciência passou a guiar a trajetória humana. O Iluminismo marca, deste modo, exatamente essa transposição. A concepção medieval sendo substituída pela liberdade que a Revolução Industrial estava proporcionando ao novo homem que despontava.

A partir daí, a relação entre o divino e o terreno passou por um novo processo adaptação social. As ciências humanas ganharam novo espaço. A Sociologia e Antropologia, orientadas por um forte cunho filosófico, passaram a explorar o homem em todas as suas dimensões e percebeu-se que ele era dotado de duas formações: uma biológica, reflexo direto da própria evolução, conforme apregoa a Teoria da Seleção das Espécies de Darwin; e outra cultural, como forma de compensações de suas próprias limitações físicas.

Com o tempo, o homem foi percebendo que o seu poder criador atendia às suas necessidades mais básicas e, de certa forma, a sua dependência de Deus foi se tornando mais tênue. Vale salientar que esse "afastamento" da entidade divina deu-se, principalmente, nos grupos elitizados, uma vez que o homem comum e economicamente desfavorecido continuava crendo nas dádivas e castigos divinos. O próprio conhecimento humano passou a ser dividido em níveis, de forma que o conhecimento do homem comum é visto pelo meio acadêmico-intelectual como superficial, oriundo das crenças populares, intimamente ligado aos preceitos religiosos. Enquanto que a cultura predominante virou sinônimo de ciência e incontestabilidade.

Hoje, assistimos a um embate forte entre essas duas formas de encarar a realidade. O Brasil é um país religioso em sua essência. Relembremos, pois, a sua construção espiritual, com os índios, portugueses, os negros. Notemos, por outro lado, a influência da ciência no dia-a-dia do homem. Em tudo há a técnica, o método, o experimento, a observação, como reflexo daquilo que somos capazes de criar, de desenvolver, de aperfeiçoar. Vivemos, paradoxalmente, na Era da Dúvida e da Certeza. A matéria e o espírito disputando a atenção do homem no que concerne à contemplação e, em decorrência, a própria explicação da realidade. Os materialistas mantém a firme defesa do predomínio da ciência. Esta como início e fim do que constrói o homem.

Os céticos criticam a crença em um deus ou em vários. Usam como argumento o princípio silogístico de que se Deus é misericordioso e poderoso, por qual motivo Ele não acaba com toda a miséria que assola o mundo num passe de mágica? Onde se encontra a sua eterna bondade se o que mais vemos são inocentes pagando com a própria vida pela ganância de tantos pecadores? Por que prolongar mais o tempo para a redenção dos fracos? Essas e muitas outras dúvidas são discutidas. A Filosofia tenta encontrar caminhos possíveis para se chegar a um denominador comum. Mas, com ela, surguem mais e mais questionamentos.

Os crédulos mais ferrenhos na fé divina encontram acalento no princípio de que Deus pune pelos males que cometemos. E que se tivermos uma conduta santa seremos agraciados com os sabores que poderão advir dos céus...

Percebemos que desde que surgiu na Terra, atravessando os séculos, evoluindo, abandonando o estado de natureza, apossando-se da racionalidade, o homem tem buscando respostas para os seus conflitos. A sua sede pelo crescimento, pelo ter mais, pelo ser mais, muitas vezes, impede-o de notar que a matéria por si só não possui poder algum. Faz-se mister que nós, seres dotados de relativa inteligência, concebamos a magnitude do estar no mundo não como obra do acaso, de uma explosão desmedida e desmotivada. Somos frutos de uma Força Maior, Inteligente, Superior. É preferível que a ela não seja dada nenhuma denominação como querem os cristãos, os mulçumanos, os umbandistas, os gnósticos. Uma nomeclatura limitaria bastante a própria ideia que se tem acerca da supremacia do cosmo em consonância com as reduzidas formas de se entender o desconhecido por parte do homem.

É aconselhável que não se julge Deus como sendo o causador de todas as mazelas que o homem cria, desenvolve, fomenta. Ao longo de sua história sobre a Terra, o bicho-homem tem conseguido demonstrar que tem o poder. E que esse poder não é fruto do acaso. Ele é exatamente o reflexo do presente que nos foi dado. A ciência é este poder! Temos a capacidade de criar e descobrir novas formas de vivermos bem. Creio, plenamente, no livre-arbítrio. Somos detentores do poder de escolha. De buscarmos o melhor e exotarmos o pior. A escolha é nossa. Foi nos dado esse privilégio de percebermos que estamos vivos e que, como já preconizava Descartes, "logo existimos". O homem constrói e o homem destrói. Faz nascer e faz morrer. A escolha é sempre nossa. Deus... bom Deus foi o Arquiteto do Universo. Nós, homens com escolha, os mestres de obra de nossas próprias ações. Tiremos Deus da Berlinda. E coloquemo-nos nós próprios em Seu lugar. A escolha é nossa. Julgemo-nos e mudemos nossa trajetória terrestre, para quem sabe, um dia nos tornamos o mais próximo possível de Deus: Luz e Bondade para os homens (todos!) de Boa Fé! Amém!