Hoje, 13 de janeiro de 2010, mesmo com preguiça, não me contive e vim aqui falar um pouco sobre um fato dramático que tem acometido o eixo Rio-São Paulo. Chuvas torrenciais que, seguindo o seu curso natural, têm sido motivo de centenas de mortes.
Emocionei-me, vendo o resgaste, com ares de filme de Hollywood, de uma mulher que se viu presa em sua casa, sendo esta, violentamente, tragada pela fúria bela da correnteza da água, que rolava em abundância. Seguiram-se cenas em que pessoas choravam desoladas pela perda de familiares. Uma moça, coitada, perdera 15 familiares de uma só vez.
Fiquei triste na hora por motivos vários: pela tragédia em si; pela dor dos que vivenciam o caos; pelo sensacionalismo desmedido com que a mídia sempre transmite a dor alheia; e pelo descaso com que todos nós estamos lidando com a Natureza.
A tragédia, segundo depoimento de um jovem capturado pela lente da câmera, diz não acreditar estar passando por tudo aquilo, como se as pessoas somente acreditassem que aquilo fosse possível nos filmes. Vendo e ouvindo aquele rapaz, sofri pela ilusão em que vive a maior parte das pessoas. Pessoas que pensam, às vezes para sofrer menos, que o trágico, o dramático apenas acontece com os outros, com a sosciedade, como se nós não fossêmos a sociedade, como se os outros fossem um categoria distante da qual nós nunca faremos parte. Ser o outro e ser o eu são posições que se relativizam à medida que fomos vivendo e nos transformando em animais sociais e políticos. A tragédia em si traz um ar de que algo poderia ter sido feito para evitá-la, mas que por descaso de alguém...
O telejornal a que assisti resolveu preparar uma edição especial para cobrir a tragédia. E de tudo, o que mais ficava em evidência era a dor, o sofrimento, a desilusão. Uma das matérias apresentada por Evaristo falava sobre a solidariedade. Solidariedade de desconhecidos para com a dor de desconhecidos. A matéria suscitava discussões acerca de motivos que levam pessoas a ajudarem pessoas mesmo quando estas são anônimas. Realmente, fiquei com um nó preso na garganta quando vi pessoas cobertas de lama tentando encontr
ar parentes de outras, como se embaixo de todo aquele barro molhado se ouviesse o pulsar da vida. Já me perguntaram certa vez, o que mais me emociona. E repito aqui o que disse outrora: a solidariedade é o que me faz o coração realmente tremer e suspirar, fazendo verter lágrimas. Sei que a TV tem como princípio básico a busca extremanda pela audiência, subjulgando muitas vezes, valores e aspectos morais que são essenciais para a harmonia social.

Mas, na TV, infelizmente, principalmente, hoje, é raro ver programas e personalidades realmente comprometidas com as causas sociais, sem que se busque com isso, a autopromoção. Bons tempos em que, aos domingos, a família reunia-se para assistir ao Programa Porta da Esperança, tão bem apresentado por Sílvio Santos. A década de 80 era rica e foi, certamente, uma época de ouro dificilmente de ser repetida. Graças a Deus que vivi e senti aquele tempo mágico em que ser feliz era simples e não se precisava de tanta parafernália eletrônica para se comunicar. Havia mais contato e menos contrato com os outros. Mas, voltando ao foco: a TV hoje, apesar da subversão de valores, ainda tem espaço para o bem, para a solidariedade. Aproveito esse espaço para parabenizar um cara que sabe fazer o bem, de modo simples, que aproveita o espaço que lhe é concedido na mídia e faz aquilo que muitos poderiam e deveriam fazer: ajudar aos que são esquecidos, aos que, por erros dos outros ou de si mesmos, não tiveram a oportunidade de conseguir motivos simples para sorrir e para chorar (de felicidade...). Luciano Huck... Sem mais palavras. Creio que a TV pode explicar aquilo que prefiro guardar.
Diante de tudo isso, resta-nos falar sobre a tragédia, sobre a dor, sobre a solidariedade, sobre o descaso. Descaso, creio eu, motivo primeiro e último para fenômenos desse tipo, que assolam o homem e o seu espaço de modo tão rápido e impiedoso que choca pela fúria e pela potência.
O descaso é em primeira e em última estância o motivo gerador do caos a que assistimos no nosso cotidiano. É triste ver o sofrimento de nossos pares. É doloroso saber que nós humanos, apesar da nossa técnica e avanço científicos estamos suscetíveis aos transtornos dessa ordem. Mas o pior de tudo é saber que o homem, em toda a sua potência, não reconhece a onipotência da natureza.
Nessa tragédia toda, deveríamos tirar lições, aprender que medir forças contra a natureza é uma batalha perdida. Tenho consciência de que os que mais perdem, em termos concretos e racionais, são aqueles que perderam suas famílias, suas pobres casas, que perderam a sua dignidade, tão difundida nas leis, na própria Constituição Federal de 1988. Perder o lar e perder aqueles que ocupam o lar é trágico, é triste, é doloroso.
Sei que um bocado de gente pode estar pensando, ao ler, isso aqui que é fácil estar em frente ao computador, no enxuto, com comida na geladeira, com uma cama quentinha e aconchegante para dormir, ao invés de estar no umidade, no frio cortante, com o estômago vazio e o coração em pedaços.
Sei que um bocado de gente pode estar pensando, ao ler, isso aqui que é fácil estar em frente ao computador, no enxuto, com comida na geladeira, com uma cama quentinha e aconchegante para dormir, ao invés de estar no umidade, no frio cortante, com o estômago vazio e o coração em pedaços.
Sei que estou num momento privilegiado, mas sei também que, conforme preceitua pensamento de algum filósofo, é na dor que aprendemos. E é nesse momento que sinto vontade de expor a minha angústia diante de tanta indiferença do homem com ela, com a natureza. Com ela, da qual fazemos parte, da qual viemos e para qual voltaremos. Vendo as imagens da água descendo aqueles morros, fico imaginando há quanto tempo essa cena não se repete: há milênios que aquele monte está ali, que em épocas de chuva, aquela água desce tranquila e violenta trazendo terra, trazendo pedra, fazendo lama, conduzindo a vida. E o homem, onde fica o homem nessa história toda? O homem veio muito tempo depois e começou a destruir a mata, derrubando árvores para constrir casas e foi ocupando o lugar das árvores, o caminho por onde a água corria há milênios.
Em todos os telejornais, convidam-se d
outores em geologia, em meteorologia, em engenharia dos solos... para que possam discorrer sobre o óbvio. Por que há tantos alagamentos em cidades como São Paulo? Ora, porque o rio já estava lá há milênios, o rio ganhou nome de Tietê mesmo antes de espécie humana pensar em andar por estas paragens. Todo aquele lugar onde a água do rio chega quando chove e inunda é dele, é do rio que, há milhares e milhares de anos repete a mesma ação. Será que esse povo todo sabe o que vem a ser "leito do rio"? Será que o homem não pensa que agredindo a natureza ele está se agredindo? Será que não sabe que a natureza não precisa de muito esforço para demonstrar o quanto ela é poderosa?

O título desse texto indaga sobre quem resistirá nesse combate com final certo: natureza e homem estão em um tabuleiro. O homem tem agredido. A natureza tem se mantido silenciosa na maior parte das vezes. Porém, quando menos se espera, ela, com a sua calma natural, faz aquilo que há tempos vem fazendo: simplesmente é ela mesma.
E o homem? Bom, esse fica a discutir, a falar, a buscar explicações óbvias, constrói, destrói, ergue, derruba. O mundo pode até ser destruído pela maldade. Isso mesmo: pela MALDADE do homem. Chora-se porque muita gente morreu com as ações da natureza. Mas não se percebe que destruindo a natureza, ela apenas dar a sua resposta.
Imaginemos o planeta Terra explodindo. A natureza morreu? De forma alguma! A natureza não morre. A natureza é energia divina. E essa energia apenas se transforma em mais energia. E no final das contas, onde estaria o homem depois dessa pretensa explosão? A resposta também é óbvia: o homem morre no final dessa história humana, mas a sua matéria transforma-se em energia e a natureza... bom, a natureza continuará propagando a sua força. No final dessa guerra, tomemos consciência, porque a natureza nunca perde...
P.S. Desculpem os prováveis desvios linguístico-gramaticais, mas pelo menos aqui não tenho paciência para revisar...
(Imagens colhidas na Internet)
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