sábado, 27 de outubro de 2012

Aproveitemos o mundo...

Hoje, não sei bem sobre o que quero falar. Na verdade, sempre que me vejo nesse estado de indecisão, ou melhor, de falta de ideias a serem exploradas, fico imaginando como seria minha vida, se eu fosse mudo, cego, surgo, ou fosse portador de alguma patologia mental... Aí, fico meio que parado, pensando e tentando         enxergar, na minha mente, todas as coisas belas das quais eu ficaria privado sem os meus sentidos.
De repente, como que uma injeção de ar, percebo que, muitas vezes, as pessoas "precisam" tanto de futilidades para se sentirem felizes, que se esquecem de que o essencial para se sentir bem está exatamente onde não procuramos: na luz que os olhos captam, no ar que os nossos pulmões sorvem, nos sons que os nossos ouvidos tomam para si, nas sensações que fazem nossa pele se arrepiar. Sem essas capacidades seríamos nada, viveríamos limitados, não teríamos a capacidade de sermos um corpo pelo qual torrentes de energia fluiriam.
Quando alguém já nasce com alguma limitação, o mundo não lhe é conhecido, e esse alguém como que nasce e tenta de adaptar do modo que é, com os sentidos que lhe estão disponíveis. Na verdade, é como se   as cores, para um cego, não existissem. Ou os sons para um surdo... Mas o que dizer para alguém que nasce com todos os sentidos com capacidade plena de uso e, repentinamente, é privado de ouvir, de falar, de enxergar, de pensar... Somos, nessas situações, obrigados a viver sem aquilo com que crescemos. O mundo passa a não fazer sentido. Sofremos um bruto impacto e, literalmente, mergulhamos num caos, numa espécie de vazio. Alguns desistem, outros insistem e continuam vivendo diante da nova realidade e das limitações que ela impõe.
Não sei por qual motivo hoje parei para pensar nisso, enquanto estou cá, deitado na cama, vendo o tempo passar, sentindo a luz que vem da tv nos meus olhos, ouvindo o barulho que vem dá rua, o vento que diminui  o calor de minha pele, sentindo que o mundo abaixo, acima, ao meu redor, está carregado de energia, energia esta que também corre em minhas veias. Estou vivo, com todos os meus sentidos trabalhando e trazendo a matéria do mundo para mim. E vejo que, na verdade, a ausência ou a espera de algo que me faça levantar da cama e correr é algo que deve também ser aproveitado, já que a maior tristeza é ter toda uma vida à nossa disposição e não termos nenhuma perspectiva para movimentá-la, para preenchê-la. De repente, vejo que sou o cara mais feliz do mundo, que tenho tudo que pode me fazer (e me faz) feliz. Enxergo, respiro, ando, movimento-me, degusto... posso sair da cama num pulo sem precisar de alguém faça isso por mim e, definitivamente, vejo o quanto sou um cara feliz. Tenho tudo de que preciso para dizer que sou um cara pleno. Obviamente, todos nós temos aquele sonho por realizar, aquele que nos faz acordar e esticar a mão, como a alcançar aquela estrela, mesmo sabendo que não é possível.
Sempre digo que existem sonhos e existem objetivos. Digamos que esses últimos são mais fáceis de serem alcançados, porque demanda tempo e esforço físico e intelectual: algo que depende quase que 100% de nós. Já aqueles, não. Aqueles são mais preciosos. Nascem e nós e se instalam em nosso ser, como se sempre tivessem ali, grudados em nosso peito. É o sonho de encontrar a pessoa amada, de rever um ente querido, de ser pai ou mãe... Esses sonhos são como pedras preciosas, existem, são raros, difíceis, dependem, muitas vezes, de um pouco de sorte, de acaso, de destino: de Deus.
Sempre digo que quero, longe de mim, pessoas indolentes, preguiçosas, resmungonas. Enfim, pessoas que têm tudo para mudar o destino de suas vidas e ficam, numa atitude passivo-contemplativa, esperando a "boa vontade de Deus", como se Ele gostasse e valorizasse pessoas preguiçosas. Agradeço a Ele todas as noites pelo quem tenho, porque sou um vencedor, sempre fui: venci a maior e mais difícil das corridas, a pela vida. Comecei como um espermatozoide cabeçudo lutando contra outros tantos milhões de células, que como eu, queriam chegar ao prêmio, ao óvulo ao qual se fundiria e geraria esse cara que agora, com todos os dedos perfeitos, com os olhos saudáveis, com a mente brilhante, e com uma imensa vontade de viver: eu.

Nenhum comentário: