sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Protágoras disse...

Acordei, hoje, pela manhã, depois de um sonho um tanto grotesco... Olhei para o teto e fiquei curtindo aquela deliciosa preguiça de quem está aproveitando umas férias legais e necessárias da faculdade, além de não ter compromisso trabalhista ao longo do dia. Fechei os olhos e relaxei um pouco. Após alguns segundos, liguei a TV e fiquei assistindo ao Bom-Dia Brasil. O jornalista Márcio Gomes apresentava a matéria sobre a crise financeira global e dizia que os EUA estão prestes a aprovar um plano econômico de, deixe-me ver (sou péssimo para números...), bom, não lembro o valor exato, mas se encontra na casa dos 800.000.000.000 bilhões de dólares. Fiquei com esse número astronômico na cabeça e fazendo uns cálculos meio doidos. Não sou o ás da matemática, mas me arrisco a realizar certas somatórias.
Lembrei que havia visto, em algum site da internet, que o número de pobres no mundo chega a 1.900.000.000 bilhões de “cabeças”, considerando-se, porém, a ineficácia dos meios de coletas de dados oficiais, imaginemos que haja bem mais, e que esse número chegue a 2,5 bilhões de pobres. Fazendo valer os ensinamentos de minhas professoras de matemática das séries iniciais, fiz um cálculo simples de subtração : (número aproximado de dólares para movimentar a economia mundial): 800.000.000.000 - (número aproximado de pobres no mundo): 1.900.000.000 = 797.500.000.000.
Fiquei pasmo com esse resultado. Com uma simples assinatura, o presidente dos Estados Unidos, Jorge Bush poderia erradicar a pobreza no mundo. De repente, a pobreza, o estado aviltante em que se encontra milhões e milhões e milhões e milhões... de seres humanos seria demovido das estatísticas negativas. O valor que, provavelmente, será dirigido à recuperação da economia global não sofreria um abalo tão significativo assim, ao menos, para os olhos de meros mortais como eu, se uma ínfima parcela fosse utulizada para a erradicação da ignobilidade, da miséria, do não ter o que comer, quando o sol raia, da dor no estômago, quando as estrelas brilham no céu.
O brocardo popular diz que a "fatia do leão é a maior" e este singelo professor, aspirante a uma vaga no mundo das leis que vos fala, crê que as grandes potências pouco se importam com quem está faminto, sem ter comido pelo menos uma migalha de pão. Os Estados Unidos, o Japão, a Inglaterra, ou melhor, deixemos as metonímias de continente por conteúdo de lado, e refaçamos o início dessa estrutura frasal: Os governantes dos Estados Unidos, do Japão, da Inglaterra... não estão interessados em números que comprovem a solidariedade humana. Eles não se importam em, no cenário mundial, serem partícipes de planos que busquem a valoração de um dos direitos e garantias fundamentais que está inscrita, creio eu, na maioria das Cartas Magnas do chamados Estados Democráticos de Direito: a DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.
Este direito que, a priori, seria, na verdade, um princípio a ser respeitado e norteador de toda e qualquer lei que fosse criada no âmbito econômico, social, cultural, financeiro, é, claramente, desrespeitado. A fome impera no mundo todo. Crianças são vitimadas antes mesmo de nascer. Morrem de desnutrição ainda no ventre materno. A “fatia do leão” é grande demais e, na maioria das vezes, usurpa o pouco que os países de economia pequena possuem, e, conseqüentemente, o pouco de as famílias pobres para se auto-proverem. O brocardo popular citado acima puxa um outro: “O saco do quem quer nunca enche”. Quanto mais se vê a economia interna crescer, mais se quer para si, para o crescimento interno, dos grandes grupos econômicos, dos grupos empresarias. Isso é típico da nebulosa onda do neo-liberalismo. Incentiva-se o aumento do capital pela exploração inumana da mão-de-obra (quase que digo “mão-de-obra escrava”, mas lembrei que a escravidão é coisa que, OFICIALMENTE, deixou de existir no século XIX...).
O capital é o cerne, o início e o fim, a causa e o efeito, enfim, o alfa e ômega da engrenagem capitalista. Pelo capital, destroem-se florestas, agrava-se a destruição da camada de ozônio, guerreia-se por mercados externos, impõem-se trabalhados forçados a crianças que minguam por um pedaço de pão. A busca desenfreada pelo crescimento do capital é o monstro moderno que mata mais do que qualquer guerra. A única diferença entre ele e esta é que ela mata num determinado instante, num determinado local, por um motivo determinado. Já a busca pelo capital metamorfoseia-se, é lento, é gradativo, reveste-se com roupagens diversas, como, por exemplo, a destruição da natureza e da biodiversidade. Se há um lado bom na guerra, é que ela mata e todos sabem o porquê (ou, pelos menos, deveriam saber!) . A busca pelo crescimento do capital, além de matar, pouco a pouco, humilha, ultraja a dignidade do homem.
Possuir mais reserva cambial. Fomentar as transações comerciais entre as nações. Ter mais armamento bélico. Ser o maior e melhor frente à comunidade mundial. Fico me perguntando para onde é que vão os redondos e gordos zeros do astronômico “800.000.000.000” de dólares, se reina a fome, cresce a miséria, subjuga-se e humilha-se o homem comum e labutador, o verdadeiro construtor do capital. Diante de tantas incertezas que imperam no mundo pós-contemporâneo, tenho apenas uma única e solitária certeza: para o meu bolso, eles não virão. E também não vão, certa e indubitavelmente, para o bolso dos 1.900.000.000 de seres que vasculham a sarjeta do sistema capitalista.
O filósofo sofista grego Protágoras disse que “O homem é a medida de todas as coisas”. De todas as coisas, sim, e, inclusive, da medida dos números astronômicos dos cofres públicos, do patrimônio líquido dos grandes grupos empresariais, em detrimento, lastimavelmente e em proporção inversa e desmedida, da carência humana pelo mínimo possível (ou impossível, dependendo do número de zeros que surjam...) para sobreviver num mundo onde a medida do justo advém do infinito querer mais do homem.

2 comentários:

Askabusky disse...

É impressionante como um ser humano, de carne e osso, pode ter poderes além da nossa imaginação. George W. Bush é o homem mais poderoso da face da terra. Se ele quiser matar a qualquer um, ele nem precisa sair da casa Branca. Tanto poder, nas mãos de um homem, não é, e nunca será seguro, por mais ético que for.

Urbana Legio disse...

"Existe alguém que está contando com você pra matar em seu lugar já que nessa guerra não é ele quem vai morrer. E, quando longe de casa, o inimigo você espera, ele estará com outros velhos inventando novos jogos de guerra. Mais uma guerra sem razão, já são tantas as crianças com armas na mão. Mas explicam novamente que a guerra gera empregos e aumenta a produção. Uma guerra sempre avança a tecnologia, mesmo sendo guerra santa, quente, morna ou fria. Pra que exportar comida, se as armas dão mais lucros na exportação. O Senhor da Guerra não gosta de crianças!" - Urbana Legio Omnia Vincit! -