domingo, 19 de outubro de 2008

Eros e Vênus...

Por estes dias, durante uma aula, surgiu uma animada discussão acerca do que seria o AMOR. Vários tentaram exemplificar; alguns, conceituar; mas a maioria resguardou-se ao silêncio. Se por um lado, reconheço que é um tema profundo, digno de ser discutido e opinado pelas grandes mentes da história, como Aristóteles, Platão, Álvares de Azevedo, Sigmund Freud etc, etc, etc... por outro, acredito que os corações mais singelos são os mais aptos a se embrenharem por este vale nebuloso, que todos já sentiram, muitos vivem, alguns ainda não conheceram, mas que, certamente, toda a humanidade daria (creio que a vida!) para, ao menos, por alguns minutos, sentir-se inebriada por esse vinho agridoce, que consome todo o ser, penetra na pele, chega ao coração, mexe com todas as glândulas do organismo, acelera a pulsação, e, o mais sério de todos os sintomas, afeta o sistema nervoso central, desregula o cérebro, tira a razão. Já li, por aí, que muitos cientistas têm procurado explicá-lo por meio de testes em laboratórios. Procuram medir a intensidade da alguns hormônios no organismo daqueles que se dizem amando. Quando percebem que determinada secreção em determinado indivíduo é mais intensa do que em outros, aí dizem que este ou aquele realmente sente amor. Tudo especulações! Aristóteles e Platão, certamente, saberiam dizer o que seria o AMOR pela ótica do intelecto, pela filosofia grega, pelo poder das divindades pagãs politeístas. Álvares de Azevedo, mergulhado em seu Mal-do-Século descreveria-o como sendo o mais terríveis dos sentimentos, aquele que subjuga ao fundo do poço, que humilha, que corrói o interior e faz o corpo "doer sem sentir dor", como já dizia o famoso poeta lusitano Camões. Sigmund Freud, o precursor da psicanálise, diria que o AMOR está diretamente condicionado à expressão do mundo inconsciente, do estado salutar em que se encontra o mundo interior do indivíduo. Diria que somente se pode amar alguém quando somos capazes de, a priori, amarmos a nós mesmos. E muitos, e muitos, e muitos outros, antigos, medievais, modernos, contemporâneos e pós, tentaram, tentam e muitos ainda tentarão definir esse sentimento que vira a cabeça, que dilacera a alma, que constrói mundos, que destrói lares, que diz ao homem o momento certo de se entregar, mas que engana muitos outros, fazendo-os perder o equilíbrio e derrapar na longa estrada da perdição... Aqui, em frente ao PC, fico imaginando o que seria o mundo sem AMOR, sem a dor que ele causa, sem a alegria que muda a rotina dos solitários, que faz com que muitos se embriaguem no seu doce e ácido sabor, que planta flores, mas que seca jardins, outrora floridos... Alguns experts no assunto dizem que existe apenas um único tipo de AMOR. Que somente amamos uma vez, uma única pessoa. Que tolice, com todo o respeito que as partes merecem!O AMOR é multi, transforma-se, amadurece, corrói-se, rejuvenesce, mingua... MORRE. Acredito piamente que o AMOR é forte. Forte o suficiente para durar por toda a vida (e além dela!); defendo, contudo, a espinhosa idéia de que, paradoxalmente, ele é FORTE e FRÁGIL, a um só tempo. Li, certa vez, em certo lugar, num dia qualquer (creio que na obra de Machado de Assis) algo sobre o AMOR. Dizia-se que esse sentimento é como a chama de uma vela, capaz de causar estragos inimagináveis, destruir vidas, destruir o mundo. Mas dizia-se que esse dragão em miniatura pode esvair-se a um pequeno sopro, a uma leve brisa que entra sorrateiramente pela fresta de uma janela esquecida aberta. O AMOR é sublime, vigoroso como um Sansão. Hercúleo, como um deus. Forte, como uma rocha. Mas, inegavelmente, delicado como uma gota de água que cai no chão escaldante do Deserto do Saara, quando o Sol está a pino. Como uma planta que necessita, diariamente, ser regada, porque senão mingua diante da força dolorosa dos raios solares. É algo impossível de ser conceituado por meio de palavras humanas. Por meio de prosas e versos. Por meio de cenas dantescas da Sétima Arte. Tudo o que vemos e ouvimos sobre o AMOR não é o seu conceito. Não é a sua fórmula. Não é o que pensa a ignóbil e esnobe sabedoria humana, que tenta, através do cientificismo, explicar o que seria esse sentimento que se confunde com a própria gênese humana.
Dizem que o homem é fruto das mãos divinas, dizem que o homem é superior sobre os outros animais, não porque pensa, porque raciocina, porque constrói teorias, porque arquiteta o mundo, mas dizem (e concordo plenamente!) que o homem é homem, porque, na sua racionalidade, entrega-se, de olhos fechados, ao mais simples, complexo, irracional, destrutível, árido, fértil dos sentimentos. O AMOR é tudo e é nada. O AMOR não se explica, não se conceitua. O AMOR apenas existe. Tudo que se tenta dizer sobre ele são especulações. São exemplos daquilo que se sente quando se ama. O AMOR é divino porque nos faz sentir divinos. Faz-nos pensar que podemos tudo, e o melhor, nós conseguimos.
Viva a ele que nos monta, que nos desmonta, que nos faz rir, que nos faz chorar. Que diz por onde devemos ir, que nos diz que, apesar da escuridão, devemos seguir em frente. O AMOR provoca isso. Enquanto não consigo conceituá-lo, vou amando e sendo amado. E se um dia, eu conseguir defini-lo, provavelmente, morri, e chegando aos Céus, papeei com Deus e ele me deu a definição sobre essa palavra que, na Terra, faz o homem pensar que é Deus e “chorar sem sentir dor”...

3 comentários:

Askabusky disse...

O amor é algo tão sem nexo que você pode deixar de se importar consigo mesmo por causa dele. Interessante e óbvio não?

Askabusky disse...

Algo que nós não vemos, não cheiramos, não tocamos, simplesmente sentimos, pode fazer tanto estrago física e psicologicamente... Eu digo, quem um dia tiver o controle sobre este fenômeno, terá alcançado o fim do infinito.

Antonio Padre da Silva disse...

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor (1 Corintios 13.1-13).

PS.: Renato Russo na iminência de partir para a eternidade conheceu este Amor (Amor Ágape, o que emana de Deus), chegou até a gravar uma canção com parte desta letra. Não é fácil vivê-lo, reconheço, mas que é divino não tenho nenhuma dúvida. Forte abraço a todos.