
Que tarde preguiçosa! Tentei dormir, mas o mormaço da tarde escaldante de Mossoró não colaborou com o meu intento. Levantei-me e vim para a frente do PC ver se consigo produzir algo útil ou fútil, mas algo. Comecei a pensar no passado e a relembrar das minhas "tias" de quando eu era moleque no colégio. Fiquei nostálgico, um tanto melancólico. Fiz, mentalmente, uma lista das minhas professoras do primário e lembrando os nomes, características físicas e psicológicas de cada uma delas - Tia Maria José, baixinha a quem os colegas chamavam de Cocada; Tia Madalena, morena da cor linda, quase uma senhora, calma e atenta às perguntas dos pirralhos (creio que a primeira professora que me fez gostar de Português. Foi com ela que acertei a primeira palavra num ditado de palavras – “palhaço” era a palavra...); Tia Maria José (outra, mas muito diferente da primeira...), era brancona, meio gorda e com cara de má, meio gasguita, tínhamos medo dela, mas era uma pessoa boa e atenciosa. Esqueci-me de dizer que antes da segunda Maria José, tive como professora a Tia Alvanir. Pessoa extremamente doce, mas que teve que deixar a sala de aula porque não tinha mais voz para lidar com crianças traquinas. Isso ocorreu em 1989, quando eu fazia a terceira série. Trabalha até hoje na secretaria do mesmo colégio... Pessoa linda de viver! Em seguida, veio a Tia Elizabete. Uma jovem franzina, com um sinal de carne do lado esquerdo, formando um ângulo com o encontro dos lábios e a ponta do nariz. Cabelo negro, encaracolado, na altura dos ombros. Usava sempre a roupa passada, tinha a voz doce e estava noiva. Lembro-me de que eu ficara extremamente triste quando soube que ela ia se casar. Foi a minha primeira paixão por alguém com mais idade do que a minha. Na época, foi criado, no colégio, o Correio Escolar. Escrevíamos a quem queria e a direção encarregava-se fazer a entrega, semanalmente. Revoltado, escrevi para a tia e disse-lhe que não queria que ela casasse, que o noivo dela não era bom o suficiente e, tantos outros ultrajes que fico ruborizado apenas de lembrar. Ela, com uma letra linda, respondeu-me tentando acalmar-me, dizendo que amava o namorado, que eu era um garoto lindo, inteligente e que um dia eu iria entender do que ela estava falando. Fiquei várias semanas com vergonha de olhá-la nos olhos. Até hoje, tenho uma outra carta (uma das várias que ela me respondeu, das muitas que lhe mandei...), na qual ela diz que eu era um garoto atencioso, inteligente etc, etc, etc.
O tempo passou, cheguei à quinta série. Quinta série “A”. A sala dos inteligentes. Foi nesse ano em que descobri os sabores do pecado. De ir ao colégio e matar aula. Alguns colegas (Evandro, Romildo, Fábio, Gentil...) e eu pegávamos o ônibus circular (não pagávamos passagem...), rodávamos pela cidade e ficávamos sentado na praça do Museu Municipal. Quando dava o horário do término das aulas, pegávamos o mesmo ônibus e voltávamos para casa. Isso durou o ano todo. E como não existe crime perfeito, cheguei ao final do ano e fiquei de recuperação em Inglês e em Matemática. Passei na primeira, mas na segunda não deu. Fiquei reprovado. Mãe descobriu e eu disse para ela que não fosse nem pegar o resultado, pois já tinha consciência do ocorrido. Ela não brigou, não me bateu. Mas percebi por seu olhar o profundo grau da decepção. Eu sempre, até então, um aluno exemplar, assíduo, pontual, exigente comigo mesmo. Porém, naquele ano, senti uma vontade de fazer diferente, de ser diferente. Percebi no olhar de minha mãe uma decepção tão profunda, que me senti horrivelmente mal. Vi todos os colegas indo para a série seguinte e eu ficando. Sendo deixado para trás pelo bonde dos meus. Repeti a série, vi tudo que deveria ter visto no ano anterior, mas por inépcia tão somente minha não vi. Em 1992, repeti a série que seria para mim, a mais importante de todas. Passei em todas as matérias no terceiro bimestre (inclusive Inglês e Matemática!).
Naquele ano, nasceu um novo Davi Tintino. Desde aquele momento, eclodiu em mim a vontade doida de ser diferente, de provar para todos os outros que eu podia fazer diferente. 1992 foi um marco em minha vida. Já parei e perguntei-me, infinitas vezes, que, se fosse possível voltar os ponteiros do relógio da vida, se eu pudesse retroceder ao momento em que pela primeira vez subi no ônibus para burlar aula, se eu faria diferente. Sempre me respondo que não.
Naquele momento fui inconseqüente, fui irresponsável, brinquei com a matéria-prima do meu futuro. E a obra não foi concluída. Descobri-me naquele momento, um garoto extremamente capaz de mudar o seu pequeno mundo. Desde aquele ano até a minha entrada na primeira faculdade, fui chamado de todos os vocativos que atingem um aluno aplicado. Nerd, CDF, lesado, falante... Esses nomes passaram a substituir o nome com o qual fui batizado. Passei de inconseqüente a inteligente em menos de um ano.
A primeira vez que “estudei” a quinta série foi muita boa. Porque naquele ano, senti o gosto de pisar no terreno perigoso do erro. Um caminho que, muitas vezes, não tem volta. Caminhei um ano por ele, senti os prazeres do perigo, brinquei com obscura mão do proibido. Mas voltei!
De 1991, ano de minha reprovação, até 2008, ano em que, graças a Deus, todos nós encontramos, lá se vão 17 árduos, felizes, sofridos, perigosos, reveladores, tensos, prazerosos anos. Neste 17 anos, o Davi que vos fala transformou-se. Virou adolescente. Ficou com o rosto cheio de espinhas. Fiquei órfão de pai vivo. Revoltei-me contra ele. Perdoei-o. Virei homem. Descobri um pouco sobre a vida. Desejo descobrir muito mais.
O tempo passou, cheguei à quinta série. Quinta série “A”. A sala dos inteligentes. Foi nesse ano em que descobri os sabores do pecado. De ir ao colégio e matar aula. Alguns colegas (Evandro, Romildo, Fábio, Gentil...) e eu pegávamos o ônibus circular (não pagávamos passagem...), rodávamos pela cidade e ficávamos sentado na praça do Museu Municipal. Quando dava o horário do término das aulas, pegávamos o mesmo ônibus e voltávamos para casa. Isso durou o ano todo. E como não existe crime perfeito, cheguei ao final do ano e fiquei de recuperação em Inglês e em Matemática. Passei na primeira, mas na segunda não deu. Fiquei reprovado. Mãe descobriu e eu disse para ela que não fosse nem pegar o resultado, pois já tinha consciência do ocorrido. Ela não brigou, não me bateu. Mas percebi por seu olhar o profundo grau da decepção. Eu sempre, até então, um aluno exemplar, assíduo, pontual, exigente comigo mesmo. Porém, naquele ano, senti uma vontade de fazer diferente, de ser diferente. Percebi no olhar de minha mãe uma decepção tão profunda, que me senti horrivelmente mal. Vi todos os colegas indo para a série seguinte e eu ficando. Sendo deixado para trás pelo bonde dos meus. Repeti a série, vi tudo que deveria ter visto no ano anterior, mas por inépcia tão somente minha não vi. Em 1992, repeti a série que seria para mim, a mais importante de todas. Passei em todas as matérias no terceiro bimestre (inclusive Inglês e Matemática!).
Naquele ano, nasceu um novo Davi Tintino. Desde aquele momento, eclodiu em mim a vontade doida de ser diferente, de provar para todos os outros que eu podia fazer diferente. 1992 foi um marco em minha vida. Já parei e perguntei-me, infinitas vezes, que, se fosse possível voltar os ponteiros do relógio da vida, se eu pudesse retroceder ao momento em que pela primeira vez subi no ônibus para burlar aula, se eu faria diferente. Sempre me respondo que não.
Naquele momento fui inconseqüente, fui irresponsável, brinquei com a matéria-prima do meu futuro. E a obra não foi concluída. Descobri-me naquele momento, um garoto extremamente capaz de mudar o seu pequeno mundo. Desde aquele ano até a minha entrada na primeira faculdade, fui chamado de todos os vocativos que atingem um aluno aplicado. Nerd, CDF, lesado, falante... Esses nomes passaram a substituir o nome com o qual fui batizado. Passei de inconseqüente a inteligente em menos de um ano.
A primeira vez que “estudei” a quinta série foi muita boa. Porque naquele ano, senti o gosto de pisar no terreno perigoso do erro. Um caminho que, muitas vezes, não tem volta. Caminhei um ano por ele, senti os prazeres do perigo, brinquei com obscura mão do proibido. Mas voltei!
De 1991, ano de minha reprovação, até 2008, ano em que, graças a Deus, todos nós encontramos, lá se vão 17 árduos, felizes, sofridos, perigosos, reveladores, tensos, prazerosos anos. Neste 17 anos, o Davi que vos fala transformou-se. Virou adolescente. Ficou com o rosto cheio de espinhas. Fiquei órfão de pai vivo. Revoltei-me contra ele. Perdoei-o. Virei homem. Descobri um pouco sobre a vida. Desejo descobrir muito mais.
Hoje, ganho dinheiro tentando ensinar, por meio das sofridas regras gramaticais, um pouco sobre a vida para pessoas que se encontram numa fase difícil para a maioria dos seres humanos: a adolescência. Hoje, vejo, durante as manhãs e as tardes, dos meus estressantes dias, o mesmo que vi em mim quando eu tinha a idade dos meus alunos.
Não me arrependo de nada que fiz. Arrependo-me do que deixei de fazer. Com os meus erros, construí os meus acertos. Com as minhas lágrimas, umedeci a pele. Reguei meu coração. Usei para preparar o cimento para erguer as paredes do meu castelo. Detalhe: o meu castelo ainda não está pronto e creio que ainda virão muitos anos para deixá-lo do jeito que quero.
Hoje estou aqui, “falando” para vocês, mas olhem para mim, olhem para as pessoas ao redor de vocês e se vejam daqui a 17 anos. Perguntem-se o que vocês querem para vida de vocês. Estabeleçam metas. Desenvolvam objetivos. Sonhem!
Não deixe que as memórias boas nem as ruins se apaguem de suas lembranças. Lembrem-se sempre das tias do primário, dos professores do ginásio, dos estresses do pré-vestibular, do primeiro amor, da primeira decepção amorosa... Não procuremos fazer da vida sempre algo perfeito, sem dor, sem sofrimento, pois isso não depende apenas de nós. Depende de muitos fatores, que estão além das nossas forças. Vivam simplesmente. Façam o que for possível fazer. Em alguns momentos esperem pelo empurrãozinho dos Céus. Mas vivam, vivam intensamente. Usem todos os sentidos para viver o mundo. Usem a inteligência para programar uma vida confortável. Usem o coração para sentir que a vida sem emoção não tem graça alguma. Vivam com um pé no chão e o outro no ar, sempre procurando equilibrar-se, pois a vida é um espetáculo, comparado aos mágicos passos do balé...
Não me arrependo de nada que fiz. Arrependo-me do que deixei de fazer. Com os meus erros, construí os meus acertos. Com as minhas lágrimas, umedeci a pele. Reguei meu coração. Usei para preparar o cimento para erguer as paredes do meu castelo. Detalhe: o meu castelo ainda não está pronto e creio que ainda virão muitos anos para deixá-lo do jeito que quero.
Hoje estou aqui, “falando” para vocês, mas olhem para mim, olhem para as pessoas ao redor de vocês e se vejam daqui a 17 anos. Perguntem-se o que vocês querem para vida de vocês. Estabeleçam metas. Desenvolvam objetivos. Sonhem!
Não deixe que as memórias boas nem as ruins se apaguem de suas lembranças. Lembrem-se sempre das tias do primário, dos professores do ginásio, dos estresses do pré-vestibular, do primeiro amor, da primeira decepção amorosa... Não procuremos fazer da vida sempre algo perfeito, sem dor, sem sofrimento, pois isso não depende apenas de nós. Depende de muitos fatores, que estão além das nossas forças. Vivam simplesmente. Façam o que for possível fazer. Em alguns momentos esperem pelo empurrãozinho dos Céus. Mas vivam, vivam intensamente. Usem todos os sentidos para viver o mundo. Usem a inteligência para programar uma vida confortável. Usem o coração para sentir que a vida sem emoção não tem graça alguma. Vivam com um pé no chão e o outro no ar, sempre procurando equilibrar-se, pois a vida é um espetáculo, comparado aos mágicos passos do balé...