Hoje, não sei bem sobre o que quero falar. Na verdade, sempre que me vejo nesse estado de indecisão, ou melhor, de falta de ideias a serem exploradas, fico imaginando como seria minha vida, se eu fosse mudo, cego, surgo, ou fosse portador de alguma patologia mental... Aí, fico meio que parado, pensando e tentando enxergar, na minha mente, todas as coisas belas das quais eu ficaria privado sem os meus sentidos.
De repente, como que uma injeção de ar, percebo que, muitas vezes, as pessoas "precisam" tanto de futilidades para se sentirem felizes, que se esquecem de que o essencial para se sentir bem está exatamente onde não procuramos: na luz que os olhos captam, no ar que os nossos pulmões sorvem, nos sons que os nossos ouvidos tomam para si, nas sensações que fazem nossa pele se arrepiar. Sem essas capacidades seríamos nada, viveríamos limitados, não teríamos a capacidade de sermos um corpo pelo qual torrentes de energia fluiriam.
Quando alguém já nasce com alguma limitação, o mundo não lhe é conhecido, e esse alguém como que nasce e tenta de adaptar do modo que é, com os sentidos que lhe estão disponíveis. Na verdade, é como se as cores, para um cego, não existissem. Ou os sons para um surdo... Mas o que dizer para alguém que nasce com todos os sentidos com capacidade plena de uso e, repentinamente, é privado de ouvir, de falar, de enxergar, de pensar... Somos, nessas situações, obrigados a viver sem aquilo com que crescemos. O mundo passa a não fazer sentido. Sofremos um bruto impacto e, literalmente, mergulhamos num caos, numa espécie de vazio. Alguns desistem, outros insistem e continuam vivendo diante da nova realidade e das limitações que ela impõe.
Não sei por qual motivo hoje parei para pensar nisso, enquanto estou cá, deitado na cama, vendo o tempo passar, sentindo a luz que vem da tv nos meus olhos, ouvindo o barulho que vem dá rua, o vento que diminui o calor de minha pele, sentindo que o mundo abaixo, acima, ao meu redor, está carregado de energia, energia esta que também corre em minhas veias. Estou vivo, com todos os meus sentidos trabalhando e trazendo a matéria do mundo para mim. E vejo que, na verdade, a ausência ou a espera de algo que me faça levantar da cama e correr é algo que deve também ser aproveitado, já que a maior tristeza é ter toda uma vida à nossa disposição e não termos nenhuma perspectiva para movimentá-la, para preenchê-la. De repente, vejo que sou o cara mais feliz do mundo, que tenho tudo que pode me fazer (e me faz) feliz. Enxergo, respiro, ando, movimento-me, degusto... posso sair da cama num pulo sem precisar de alguém faça isso por mim e, definitivamente, vejo o quanto sou um cara feliz. Tenho tudo de que preciso para dizer que sou um cara pleno. Obviamente, todos nós temos aquele sonho por realizar, aquele que nos faz acordar e esticar a mão, como a alcançar aquela estrela, mesmo sabendo que não é possível.
Sempre digo que existem sonhos e existem objetivos. Digamos que esses últimos são mais fáceis de serem alcançados, porque demanda tempo e esforço físico e intelectual: algo que depende quase que 100% de nós. Já aqueles, não. Aqueles são mais preciosos. Nascem e nós e se instalam em nosso ser, como se sempre tivessem ali, grudados em nosso peito. É o sonho de encontrar a pessoa amada, de rever um ente querido, de ser pai ou mãe... Esses sonhos são como pedras preciosas, existem, são raros, difíceis, dependem, muitas vezes, de um pouco de sorte, de acaso, de destino: de Deus.
Sempre digo que quero, longe de mim, pessoas indolentes, preguiçosas, resmungonas. Enfim, pessoas que têm tudo para mudar o destino de suas vidas e ficam, numa atitude passivo-contemplativa, esperando a "boa vontade de Deus", como se Ele gostasse e valorizasse pessoas preguiçosas. Agradeço a Ele todas as noites pelo quem tenho, porque sou um vencedor, sempre fui: venci a maior e mais difícil das corridas, a pela vida. Comecei como um espermatozoide cabeçudo lutando contra outros tantos milhões de células, que como eu, queriam chegar ao prêmio, ao óvulo ao qual se fundiria e geraria esse cara que agora, com todos os dedos perfeitos, com os olhos saudáveis, com a mente brilhante, e com uma imensa vontade de viver: eu.
Um lugar para passar o tempo de modo inteligente, sadio, despreocupado... Mas, prezo por uma coisa - respeito e uso de um comportamento adequado a todas a s faixas de idade. Este é um espaço familiar e, portanto, respeitável. Usufrua, sem deturpá-lo!
sábado, 27 de outubro de 2012
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Eu, "O menino que roubava livros"... Aprendiz da vida... Vivente da arte!
Olá, meus queridos, amigos, colegas, amor, família, alunos... Faz tempo que não passo por aqui, a fim de jogar palavras no teclado, ficar com dúvida sobre o que dizer, ou melhor, escrever, para leitores cuja presença aqui não tenho certeza se virá, "perder um pouco de tempo", para ler as palavras que vou transmito neste fluxo louco que é a internet.
Faz mais de ano que não atualizo o blog, mesmo porque não quero ser visto como aquele que escreve para estar sempre dizendo algo, como se tudo que acontecesse fosse digno de um artigo aqui neste ambiente. Gosto de maturar as ideias. Deixá-las, algumas vezes, em banho-maria. Gosto que as ideias vicejem no meu cérebro, até que elas me obriguem a vir aqui e expô-las, maduras, como fruta que apanhamos embaixo da árvore e a devoramos, rápida, suculenta, apetitosa.
Para mim, as palavras boas, são as palavras digestivas. Aquelas que entram, descem pela garganta, escorregam fáceis, e nos alimentam, infinitamente, com seu poder de preencher um espaço que nunca mais ficará vazio, porque elas, as palavras sucululentas, não vão embora, criam radículas, espalham-se dentro de nós, produzem pensamento, obrigam-nos a criar mais palavras...
É algo semelhante à boa literatura, que não necessariamente tem que ser uma literatura cujo princípio é o das histórias de contos de fadas, com finais felizes, cor de rosa com azul. A boa literatura me excita. Causa-me frenesi. Digamos que até mesmo mal-estar. Porque nos obriga a pensar. A viver aquela realidade. A sentir um mundo que não é nosso, mas que se torna nosso porque adentramos por ele, pelas palavras, que nos carregam, nos sugam, nos consomem, criando em nós, matéria nova. Sou amante das palavras. Não me recordo um momento da vida em que elas não estiveram presentes. Desde moleque, quando, na minha inocência, furtei da pequena biblioteca do escola em que cursava o primário. Eu era magricela, cabeça grande, usava calça-curta, tênis conga. E achava fantástico ir, após o lanche, correr para a biblioteca ficar vendo aquele mundinho de livro, com a bibliotecária, lá no canto dela vendendo produtos da revista Avon, para complementar o salário ralo. E eu, namorando os livros que não podiam sair, já que eram únicos, não tinham mais de um volume. Então, eu ficava ali, transtornado na minha invisibilidade pueril, mais um aluno em meio a uma multidão de moleques que corriam loucos pelos corredores e pelo pátio da escola. Até que um dia venci a mim mesmo e, aos 10 anos, cometi meua primeiro e dramático delito: furtei o livro. Coloquei embaixo da camisa de botão, branquinha, cujo bolso possuia a imagem da bandeira do município de Mossoró. Coloquei, sofrego, suando bicas, tremendo, por medo de ser pego em flagrante delito e ser preso pela autoridade escolar. Sai de fininho, e quando cheguei ao corredor, corri, corri, corri muito até chegar à sala de aula e conseguir depositar a "joia roubada" em minha mochila, que estava com o zipper quebrado. Meu Deus!
Agora mesmo, quando me recordo, ainda sinto a aflição do momento, do perigo. Fiquei louco para chegar em casa e me deleitar com a história de Robison Suíço, um cara que, em viagem com a família, teve o seu destino alterado por um naufrágio, ao qual escapou apenas ele e sua família, indo para em uma fantástica ilha deserta. Lembro-me que não queria fazer outra coisa que não fosse ler aquela aventura. As palavras me puxavam para aquela ilha, eu me via correndo atrás das avestruzes com os filhos do náufrago. Dormindo em uma casa linda, trepada numa árvore gigantesca. Eu me via indo ao návio pegar tudo aquilo que pudesse ser aproveitado no nova terra, naquela ilha, mais enigmática do que a ilha de LOST.
Ainda tenho esse livro. Na verdade, está com o meu sobrinho Matheus. Eu o emprestei para ver se ele dá um tempo nas revistinhas da turma da Mônica. Ao que parece, meu sobrinho também é viciado em livros. Se lhe compro dez revistas para ele passar o mês, o moleque ler tudo no mesmo dia. O vocabulário dele é fantástico. Conhece palavras que me causam espanto para a idade dele. Recordo-me de um livro, que ainda não li. Acho que é "A menina que roubava livros". Um dia o lerei para ver se guarda semelhança com a minha história. A minha fantástica história infantil de um garoto sonhador, apaixonado pela vida, que ficava vendo o mundo passar diante dos seus olhos, encantado com a possibilidade de criar história na minha cabecinha cabeluda (hehehe, quando criança meu cabelo era tipo volumoso, crespo, minha mãe demorava a mandar cortar, tempos das vacas magras...). Criava narrativas fantásticas, onde eu, obviamente, era o herói. Fortão. Conquistava a garota, que à época, era a dos meus sonhos: Daniele...
Cresci. Li de tudo. Flaubert. Dostoiévski. Eça de Queirós. Stendal. Machado. Li também um bocado de livros pesados para a minha adolescência: Adelaide Carraro é de que agora me recordo. Fanstásticas histórias erótico-pornográficas que não eram indicadas para adolescentes, mas que não sei bem o porquê, havia na biblioteca pública de Mossoró (se eram proibidas por que, então, estavam à merçê de todos? inclusive eu?). Ah, li também Jean Genet. Livro pesado, mas considerado um clássico para os que discutem questões relacionadas ao gênero, à sexualidade.
Até um tempo atrás, eu tinha uma lista com nome das obras e autoria que tinha lido até os dezoito anos. Perdi a agenda. Mas me recordo que já tinha lido uma média de 300 obras até os dezoito anos de minha infância e adolescência de um garoto que sempre foi meio observador do mundo. Hoje, estou concluindo mestrado em Literatura Comparada na UFRN. Dou aula de Língua Portuguesa e Literatura no IFRN. E sou a favor que meus pupilos leiam de tudo. Desde a literatura tida como clássica até a literatura que causa o pavor dos mais conservadores. Talvez por isso que tenha optado em estudar o meu ídolo: Nélson Rodrigues e a sua transgressiva Engraçadinha. Talvez tenha lutado para ser orientando de Ilza Matias, professora da UFRN, que possui um mundo de leituras que não se enquadram no perfil do cânone.
Quero no doutorado continuar lendo transgressões, porque elas nos mostram o mundo como ele é, ou como poderia ser. Trabalho com aquilo pelo qual sempre fui apaixonado: livros, palavras, imagens... Foi pela leitura que cometi o meu primeiro delito de amor: roubar um livro, como um beijo roubado da pessoa que se ama. Quando estou lendo, PQP! Sinto-me forte porque quebro fronteiras geográficas. Conheço o frio das regiões desconhecidas. Fujo do calor de Mossoró. Mas volto para a sequidão de histórias de amor passadas no Deserto do Saara (Eita Pequeno Príncipe Velho de Guerra...). Quando eu leio, fico mais inteligente. Porque pense em algo chato você conversar com alguém que não consegue falar sobre arte, sobre literatura, sobre cinema, sobre sentimentos, sobre vida...
Por esses dias, lancei uma questão para os meus alunos do terceirão do IFRN, após termos lido um conto de Clarice Lispector: Devaneios e embriaguez duma rapariga. Eles tiveram que produzir um pequeno texto a partir da seguinte indagação: "A literatura é reprodução da realidade ou a literatura produz realidade?", usando as substâncias que vieram pelo contato com Clarice... Sentei-me em frente ao PC, hoje, para falar sobre algo que não tinha certeza. De repente, elas me tomaram: as palavras e me vi, repentinamente, contando a minha intimidade. A-minha-pequena-trajetória-como moleque-roubador-de-livros-de-uma-pequena-escola-na-pequena-cidade-de-Mossoró. Literatura, para mim, é vida. Vida que se renova a cada leitura. A cada novo leitor. A cada nova emoção despertada.
Se um dia me perguntarem se eu sou um cara do bem, não sei dizer, com exatidão, se sou digno de ser copiado, como exemplo de boa conduta. Seria muita pretensão de minha parte. Mas sei, certamente, que me torno um cara melhor, com mais sensibilidade para compreender a mim mesmo e ao outro. Às vezes sou monstro. Às vezes sou santo. Aprendi a ser melhor amante. Aprendi a não me torturar quando cometo pequenos desgostos aos outros. Creio que serei sempre um amante de literatura, porque me vejo como um eterno Robinson Suiço, vivendo em uma ilha-paraiso. Sendo um capitão de uma jangada, com o sol batendo e queimando o meu rosto de pele brança, comendo peixe frito na fogeira. Tomando banho pelado no mar azul...
Faz mais de ano que não atualizo o blog, mesmo porque não quero ser visto como aquele que escreve para estar sempre dizendo algo, como se tudo que acontecesse fosse digno de um artigo aqui neste ambiente. Gosto de maturar as ideias. Deixá-las, algumas vezes, em banho-maria. Gosto que as ideias vicejem no meu cérebro, até que elas me obriguem a vir aqui e expô-las, maduras, como fruta que apanhamos embaixo da árvore e a devoramos, rápida, suculenta, apetitosa.
Para mim, as palavras boas, são as palavras digestivas. Aquelas que entram, descem pela garganta, escorregam fáceis, e nos alimentam, infinitamente, com seu poder de preencher um espaço que nunca mais ficará vazio, porque elas, as palavras sucululentas, não vão embora, criam radículas, espalham-se dentro de nós, produzem pensamento, obrigam-nos a criar mais palavras...
É algo semelhante à boa literatura, que não necessariamente tem que ser uma literatura cujo princípio é o das histórias de contos de fadas, com finais felizes, cor de rosa com azul. A boa literatura me excita. Causa-me frenesi. Digamos que até mesmo mal-estar. Porque nos obriga a pensar. A viver aquela realidade. A sentir um mundo que não é nosso, mas que se torna nosso porque adentramos por ele, pelas palavras, que nos carregam, nos sugam, nos consomem, criando em nós, matéria nova. Sou amante das palavras. Não me recordo um momento da vida em que elas não estiveram presentes. Desde moleque, quando, na minha inocência, furtei da pequena biblioteca do escola em que cursava o primário. Eu era magricela, cabeça grande, usava calça-curta, tênis conga. E achava fantástico ir, após o lanche, correr para a biblioteca ficar vendo aquele mundinho de livro, com a bibliotecária, lá no canto dela vendendo produtos da revista Avon, para complementar o salário ralo. E eu, namorando os livros que não podiam sair, já que eram únicos, não tinham mais de um volume. Então, eu ficava ali, transtornado na minha invisibilidade pueril, mais um aluno em meio a uma multidão de moleques que corriam loucos pelos corredores e pelo pátio da escola. Até que um dia venci a mim mesmo e, aos 10 anos, cometi meua primeiro e dramático delito: furtei o livro. Coloquei embaixo da camisa de botão, branquinha, cujo bolso possuia a imagem da bandeira do município de Mossoró. Coloquei, sofrego, suando bicas, tremendo, por medo de ser pego em flagrante delito e ser preso pela autoridade escolar. Sai de fininho, e quando cheguei ao corredor, corri, corri, corri muito até chegar à sala de aula e conseguir depositar a "joia roubada" em minha mochila, que estava com o zipper quebrado. Meu Deus!
Agora mesmo, quando me recordo, ainda sinto a aflição do momento, do perigo. Fiquei louco para chegar em casa e me deleitar com a história de Robison Suíço, um cara que, em viagem com a família, teve o seu destino alterado por um naufrágio, ao qual escapou apenas ele e sua família, indo para em uma fantástica ilha deserta. Lembro-me que não queria fazer outra coisa que não fosse ler aquela aventura. As palavras me puxavam para aquela ilha, eu me via correndo atrás das avestruzes com os filhos do náufrago. Dormindo em uma casa linda, trepada numa árvore gigantesca. Eu me via indo ao návio pegar tudo aquilo que pudesse ser aproveitado no nova terra, naquela ilha, mais enigmática do que a ilha de LOST.
Ainda tenho esse livro. Na verdade, está com o meu sobrinho Matheus. Eu o emprestei para ver se ele dá um tempo nas revistinhas da turma da Mônica. Ao que parece, meu sobrinho também é viciado em livros. Se lhe compro dez revistas para ele passar o mês, o moleque ler tudo no mesmo dia. O vocabulário dele é fantástico. Conhece palavras que me causam espanto para a idade dele. Recordo-me de um livro, que ainda não li. Acho que é "A menina que roubava livros". Um dia o lerei para ver se guarda semelhança com a minha história. A minha fantástica história infantil de um garoto sonhador, apaixonado pela vida, que ficava vendo o mundo passar diante dos seus olhos, encantado com a possibilidade de criar história na minha cabecinha cabeluda (hehehe, quando criança meu cabelo era tipo volumoso, crespo, minha mãe demorava a mandar cortar, tempos das vacas magras...). Criava narrativas fantásticas, onde eu, obviamente, era o herói. Fortão. Conquistava a garota, que à época, era a dos meus sonhos: Daniele...
Cresci. Li de tudo. Flaubert. Dostoiévski. Eça de Queirós. Stendal. Machado. Li também um bocado de livros pesados para a minha adolescência: Adelaide Carraro é de que agora me recordo. Fanstásticas histórias erótico-pornográficas que não eram indicadas para adolescentes, mas que não sei bem o porquê, havia na biblioteca pública de Mossoró (se eram proibidas por que, então, estavam à merçê de todos? inclusive eu?). Ah, li também Jean Genet. Livro pesado, mas considerado um clássico para os que discutem questões relacionadas ao gênero, à sexualidade.
Até um tempo atrás, eu tinha uma lista com nome das obras e autoria que tinha lido até os dezoito anos. Perdi a agenda. Mas me recordo que já tinha lido uma média de 300 obras até os dezoito anos de minha infância e adolescência de um garoto que sempre foi meio observador do mundo. Hoje, estou concluindo mestrado em Literatura Comparada na UFRN. Dou aula de Língua Portuguesa e Literatura no IFRN. E sou a favor que meus pupilos leiam de tudo. Desde a literatura tida como clássica até a literatura que causa o pavor dos mais conservadores. Talvez por isso que tenha optado em estudar o meu ídolo: Nélson Rodrigues e a sua transgressiva Engraçadinha. Talvez tenha lutado para ser orientando de Ilza Matias, professora da UFRN, que possui um mundo de leituras que não se enquadram no perfil do cânone.
Quero no doutorado continuar lendo transgressões, porque elas nos mostram o mundo como ele é, ou como poderia ser. Trabalho com aquilo pelo qual sempre fui apaixonado: livros, palavras, imagens... Foi pela leitura que cometi o meu primeiro delito de amor: roubar um livro, como um beijo roubado da pessoa que se ama. Quando estou lendo, PQP! Sinto-me forte porque quebro fronteiras geográficas. Conheço o frio das regiões desconhecidas. Fujo do calor de Mossoró. Mas volto para a sequidão de histórias de amor passadas no Deserto do Saara (Eita Pequeno Príncipe Velho de Guerra...). Quando eu leio, fico mais inteligente. Porque pense em algo chato você conversar com alguém que não consegue falar sobre arte, sobre literatura, sobre cinema, sobre sentimentos, sobre vida...
Por esses dias, lancei uma questão para os meus alunos do terceirão do IFRN, após termos lido um conto de Clarice Lispector: Devaneios e embriaguez duma rapariga. Eles tiveram que produzir um pequeno texto a partir da seguinte indagação: "A literatura é reprodução da realidade ou a literatura produz realidade?", usando as substâncias que vieram pelo contato com Clarice... Sentei-me em frente ao PC, hoje, para falar sobre algo que não tinha certeza. De repente, elas me tomaram: as palavras e me vi, repentinamente, contando a minha intimidade. A-minha-pequena-trajetória-como moleque-roubador-de-livros-de-uma-pequena-escola-na-pequena-cidade-de-Mossoró. Literatura, para mim, é vida. Vida que se renova a cada leitura. A cada novo leitor. A cada nova emoção despertada.
Se um dia me perguntarem se eu sou um cara do bem, não sei dizer, com exatidão, se sou digno de ser copiado, como exemplo de boa conduta. Seria muita pretensão de minha parte. Mas sei, certamente, que me torno um cara melhor, com mais sensibilidade para compreender a mim mesmo e ao outro. Às vezes sou monstro. Às vezes sou santo. Aprendi a ser melhor amante. Aprendi a não me torturar quando cometo pequenos desgostos aos outros. Creio que serei sempre um amante de literatura, porque me vejo como um eterno Robinson Suiço, vivendo em uma ilha-paraiso. Sendo um capitão de uma jangada, com o sol batendo e queimando o meu rosto de pele brança, comendo peixe frito na fogeira. Tomando banho pelado no mar azul...
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