
Para outros tantos, vida-morte são ações naturais que delimitam o início-
fim de um conjunto de ações químico-físico-biológicas que caracterizam a trajetória do homem. Para estes, não há algo de sublime nestes limites, é apenas uma sucessão de encontro entre átomos que se agrupam, ao acaso, formando moléculas e, em determinado momento, formam, no momento da concepção, um indivíduo, o qual, depois de nove meses, poderá ver nascer o sol, transformando aquele monte de massa disforme, outrora no útero materno, num ser humano. Este, chegado o momento, passará a ter uma convivência social, além dos cuidados familiares. Escola, faculdade, trabalho, família do(a) noivo(a), colégio do filho... Até que um dia, depois de anos e anos labutando para VIVER, morre-se, simplesmente. E toda aqueles milhões e milhões de átomos voltarão para a Terra, adubando o solo, voltando a ser matéria orgânica.

São muitas as concepções que existem acerca desta notória polêmica. Aí estão muitas instituições a debater sobre quando começa a vida, quando ela termina (o meio jurídico que o diga!) quem pode determinar a morte, quando o homem deixa de existir, para onde é que ele vai (se é que ele vai para algum lugar, senão para baixo de sete palmos de terra...).
De um lado, estão os céticos, ateus, cientistas e todos aqueles que creem que a vida começa e termina, simplesmente, porque algo interrompe a movimentação dos átomos, das moléculas, ou, apenas, porque o tempo encarregou-se de envelhecer a matéria que constrói o corpo.
Do outro, estão os crentes, os que buscam a resposta para a vida humana. Estes acreditam numa força superior, que o fato de estarmos aqui é decorrente de algo ou alguém que está a olhar por nós, punindo-nos ou nos agraciando pelos nossos feitos terrenos. Neste ínterim, a relação vida-morte é expandida por diversas religiões que lhe acrescentam uma visão particular. Cristianismo, Islamismo, Espiritismo, Candomblé, todas elas diferenciam-se por motivos diversos, sejam eles as crenças em um único deus ou em vários; seja por crer que vida se prolongaerá após a morte (ops! morte não, passagem!), seja por imaginar a divindade como um cruel carrasco, que fará com que o mísero humano "queime para sempre numa pedra de mármore no inferno".
Na verdade, creio que metade de tudo isso não passa de meras conjecturas, de suposições infundadas, numa forma de, por algum motivo, alienar a grande massa. Sinceramente, minha relação com o desconhecido é bastante saudável. Não fico horas e horas tentando desvendar o que, humanamente, é impossível. Reconheço, contudo, que não me apetece o fato de passar toda a minha eternidade queimando sobre uma pedra de mármore quente (putz! mármore é muito caro, preciso de algumas pedras para a minha cozinha....).

Sou um cara com um mundo de ideias próprio, que consegue aceitar a existência da concepção científica do mundo conjugada ao poder divino, na qual este possibilitou aquela. Não importa, na verdade, que nome se dá a esta força superiora: Deus, Acaso, Ciência. Creio no que toco, no que vejo, no que sinto, mas é, justamente, porque consigo tocar, ver, sentir, que creio em Deus. Em momentos de divagação, fico olhando o meu corpo, cade membro, cada órgão, cada lágrima que escorre, e vejo-me extasiado pela perfeição com que fomos construídos.
Quando alguém morre, o choro é garantido, principalmente, quando este alguém era uma pessoa boa, justa, amiga, companheira. Isso é normal. A dor da perda. Num instante, vê-se a pessoa viva, sorrindo, falando e, por alguma fatalidade, vemo-la estirada num caixão, sem vida, inerte. Isso causa dor, causa choro, derramam-se lágrimas. O fato de não mais vê-la, tocá-la é angustiante. Há culturas, porém, cujos rituais de despedida diferem-se do nossos ocidentais. Algumas comunidades celebram a morte, porque para os seus partícipes a morte é motivo de alegria, é o início de uma existência melhor.
Nós, ocidentais, fomos acostumados com a dor, com a visão de que o nascer e o viver são pólos antagônicos. Um traz alegria (nem sempre, ressalte-se!) e o outro a tristeza (idem!). Curto deitar no escuro, na praia à noite (de preferência pelado!) e ficar em contato direto com o cosmo. Fico imaginando que as moléculas que compõem o meu corpo são da mesma idade do início do universo. Quando eu morrer, os átomos que em mim estão, em breve, estarão fazendo parte da matéria de um outro ser, na árvore que dá bons frutos, no capim que será comido pelas vacas que, por sua vez, produziram o leite para saciar a fome dos pobres, estarão compondo os mecanismos eletrônicos dos computadores que movimentam o mund
o.
Quem somos nós? Para onde é que vamos? Isso não importa, galera! O que, verdadeiramente, importa é saber que nós somos matéria cósmica, que estamos aqui desde que ocorreu o Bing-Bang, provocado pela bondade de Deus, do Acaso, do Caos. Viemos da mesma massa. Vida e Morte são detalhes que marcam apenas a transformação da matéria, a vinda ao mundo de diferentes formas, espécies, gêneros. Os meus dedosm que digitam o texto que, outrora, será lido por vocês, nada mais são do que matéria reciclada e transformada. Afinal de contas, o que importa é sermos felizes, enquanto humanos, fazermos felizes os outros, vivermos enquanto vida tivermos. O depois... bom, o depois , inevitavelmente, virá e, certamente, de um modo ou de outro todos voltaremos para mesmo lugar de onde saímos: do pó ao pó! Poeira cósmica e nada mais! 